quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Saudades de ti

Tenho saudades tuas. Bem, mas elas não são bem tuas, são minhas. Tenho, isso sim, saudades que sendo bem minhas são, porém, saudades de ti. Que grande embrulhada para aqui vai, ora vejamos: para eu ter saudades tuas preciso que me dês as saudades que tens de mim e não as saudades que são minhas, porque essas são só minhas, não me as podes dar. Dizer que tenho saudades tuas é afirmar que tu tens saudades de mim, o que inverte o sentido último da mensagem que quero transmitir. Assim, enfim e em jeito de conclusão, ao contrário de mim, tu tens saudades que não sendo tuas são, porém, muito minhas. Agora eu, esse tem apenas saudades de ti.




quarta-feira, fevereiro 11, 2015

Aroma

Ainda me sobras em todos os finais de dia em que te tenho em demasia. Continuas em overdose onde já devias estar diluída. Ainda tenho excesso de ti em mim, na carne que me faz vivo, nos pensamentos que me fazem existir. O bafo ardente que expiro é um concentrado gasoso de ti; diante do espelho frágil com qual recordo o já lá vai, atrás de mim, atrás de nós, condenso-te nele, desenhando-te o recorte suado do rosto projectado com os dedos cansados que um dia te beijaram a pele. Mas em ápices apressados, evaporas-te sempre. Perco-te assim, e de repente, para a entropia abstracta do ar aflito em apuros.  É nesse caótico mexerico que tento reencontrar-te, vezes sem conta, inspirando-te a torto e a direito, num zig-zag constante seguindo à confiança, e às cegas, fio condutor do teu aroma primal com o qual me tornaste teu servo e indiferente ao resto do Mundo. E é assim que regresso, enfim, ao vício doentio de te sentir à bruta, contagiado com infatigável teimosia que me faz uma vez mais tropeçar, sem reacção e de cara chapada, para a profunda quarentena que desgraçadamente reconheço tão bem. Venha ela, vamos lá a isso então, siga!


Revisited #1

  Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...