sexta-feira, maio 24, 2013

Despertar

Em cada despertar, o teu rosto,
Um acordar preguiçoso, o sol quente.
No sono ainda, um sonho apagado,
Uma realidade quente que amorna,
Novamente tu, o meu dia.
Sempre tu, mesmo de noite.
Bom dia! Desejo-te de olhos esfregados.
Espreguiço-me. Aumento-me para te alcançar.
Tento abraçar-te logo de manhã,
Mas nunca consigo.

Amanhã tento outra vez...

Lá fora, já há vida.
Há os pássaros e o vento.
Há as montanhas escondidas.
Há o horizonte já feito atrás disso tudo.
Devo seguir-los.
Está na hora de me levantar e seguir-los
Eles saberão guiar-me até ti.

Deixa que a natureza que indique esse caminho.
Sei que me chamas, mas não sei donde.
Perdoa-me se te confundo com o cantar das aves e dos rios
E com o soprar do vento que trás o teu aroma até mim.
Perdoa-me se te vejo nas silhuetas brancas das nuvens.
E os olhos radiantes que fazem sombra às árvores.
Perdoa-me por não te distinguir no meio desta imensidão natural.

Esperando a tua compaixão,
Vou levantar-me e seguir caminho,
Até ti, até ao Sol, até à Lua, até  onde estiveres e onde fores.
Até onde és, até quando existes!
Para sempre.
Acordarei para ti.







sábado, maio 11, 2013

Sabes

Tu, no fundo, sabes que se me quiseres, eu sou teu. Sim, tu, tu que continuas a observar os meus desabafos escritos de quando em quando. Eu sei. Mesmo distante, sinto-te como se estivesses perto. Sabes que tens esse poder sobre mim, sempre tiveste e continuas a exerce-lo sem te aperceberes. Não tem maldade, sei que não o fazes por mal consciente. Sabes, também, que se o destino assim o entender, eu estarei aqui para ti. Sabes que te espero com uma calma dormente e como não se devia esperar por alguém. Sabes que te quero como dantes, como sempre, como nunca deixei de te querer...

sexta-feira, maio 10, 2013

Amnésia

Deito fora o que me lembra de ti? Tu já foste, mas os pensamentos ficaram. Corto a cabeça? Seria uma solução, de certo. No entanto não estaria suficientemente vivo para sentir o alívio de não pensar em ti. E eu quero sentir-te leve em mim, já nem sequer exijo a tua total ausência. Mesmo assim, mesmo baixando os padrões de aceitação de ti, não consigo, não dá. Porque insistes em corroer-me os sonhos de momentos de paz que tanto almejo? Deixa-me ficar, deixa-me ser eu sem ti de uma vez por todas. Deixa-me ser sozinho outra vez, estou demasiadamente acompanhado por ti. Preciso de espaço e de tempo eterno longe de ti. Mais do que isso, preciso de uma amnésia selectiva que me faça esquecer-te, somente a ti. Não aguento mais isto, mas também não morro por isto. Estou condenado a sofrer até que desapareças, nem a morte me safará deste limbo teimoso que teima em manter-me convictamente preso a ti pelos pesados grilhões da saudade e da recordação...



quinta-feira, maio 02, 2013

Loucura

Hoje encontrei-te num canto. Perdida num canto rasgado de uma folha amarelada  pelo esquecimento ignóbil do tempo. Nela não és tu, na realidade, que lá estás, mas uma frase tua, um compromisso etéreo que nos fizeste há uma eternidade atrás. Que exagero o meu, mas parece uma eternidade, não parece? Fomos uns loucos transeuntes quando nos conhecemos. De forma simbiótica, a tua loucura apaixonou-se pela minha seriedade carrancuda de então. Instantes depois, a minha máscara de responsabilidade caiu, infectada pela insanidade do teu olhar, pela doidice da tua alma de uma forma geral. Enlouqueci nesses escassos instantes que procederam o nosso primeiro encontro e tornei-me feliz. Ímprobo, mas feliz. A loucura é uma anormalidade e uma anormalidade é aquilo que não é normal. E o que não é normal é aquilo que, por acaso ou não, não está em maioria. Portanto, a loucura é uma questão de maioria, ou melhor, de minoria. Mas sendo tu o meu mundo, sendo ambos loucos e únicos um para o outro, somos, então, um caso de maioria óbvia e estupefacta. Portanto, somos normais. No nosso mundo somos perfeitamente aceitáveis e sãos. Todavia, nem toda a irracionalidade durou para sempre. Tornaste-te astuta e sã. A magia daquela loucura inicial, as suas cores estonteantes, o seu cheiro nauseabundo...tudo isso se afogou num mar de responsabilidade consciente que te afastou de mim. Apareceste, contaminaste-me e seguiste rumo a um  horizonte de prosperidade em saúde mental. Dizes agora que estou louco, atiras-me com isso à cara, quando foste tu a principal perturbadora do meu sono adequado a uma realidade de vivências na maioria comum. Neste sanatório no qual me abandonaste, tento perceber a realidade sem ti, sem estruturas mentais pré-formadas, sem conceitos primordiais que me guiem na racionalização do que me envolve. Estou sem ti, eras a loucura fantástica que me permitia ver o mundo à nossa maneira especial. Sem ti, e louco, nada mais faz sentido...



Revisited #1

  Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...