Hoje encontrei-te num canto. Perdida num canto rasgado de uma folha amarelada pelo esquecimento ignóbil do tempo. Nela não és tu, na realidade, que lá estás, mas uma frase tua, um compromisso etéreo que nos fizeste há uma eternidade atrás. Que exagero o meu, mas parece uma eternidade, não parece? Fomos uns loucos transeuntes quando nos conhecemos. De forma simbiótica, a tua loucura apaixonou-se pela minha seriedade carrancuda de então. Instantes depois, a minha máscara de responsabilidade caiu, infectada pela insanidade do teu olhar, pela doidice da tua alma de uma forma geral. Enlouqueci nesses escassos instantes que procederam o nosso primeiro encontro e tornei-me feliz. Ímprobo, mas feliz. A loucura é uma anormalidade e uma anormalidade é aquilo que não é normal. E o que não é normal é aquilo que, por acaso ou não, não está em maioria. Portanto, a loucura é uma questão de maioria, ou melhor, de minoria. Mas sendo tu o meu mundo, sendo ambos loucos e únicos um para o outro, somos, então, um caso de maioria óbvia e estupefacta. Portanto, somos normais. No nosso mundo somos perfeitamente aceitáveis e sãos. Todavia, nem toda a irracionalidade durou para sempre. Tornaste-te astuta e sã. A magia daquela loucura inicial, as suas cores estonteantes, o seu cheiro nauseabundo...tudo isso se afogou num mar de responsabilidade consciente que te afastou de mim. Apareceste, contaminaste-me e seguiste rumo a um horizonte de prosperidade em saúde mental. Dizes agora que estou louco, atiras-me com isso à cara, quando foste tu a principal perturbadora do meu sono adequado a uma realidade de vivências na maioria comum. Neste sanatório no qual me abandonaste, tento perceber a realidade sem ti, sem estruturas mentais pré-formadas, sem conceitos primordiais que me guiem na racionalização do que me envolve. Estou sem ti, eras a loucura fantástica que me permitia ver o mundo à nossa maneira especial. Sem ti, e louco, nada mais faz sentido...
quinta-feira, maio 02, 2013
Revisited #1
Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...
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Já te disse isto hoje? E ontem, contei-te? Perco-me na minha própria repetibilidade sistemática, onde procuro arranjar maneira de te contar ...
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Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...
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Pergunta-me se ainda és o meu fogo se acendes ainda o minuto de cinza se despertas a ave magoada que se queda na árvore do meu sangue Pe...