quinta-feira, junho 26, 2014

Certo

Existem sobretudo dois tipos de pessoas: as de um certo tipo e as de um determinado tipo. As do tipo certo, destacam-se pelas suas particularidades magnificas que pouco interessam de momento; as do tipo determinado detém de uma especificidade aterradora que igualmente não é para aqui chamada agora. No entanto, e como já dei a entender, não é destas que hoje aqui vou falar. Tratam-se de dois tipos não complementares, sendo a sua intersecção diferente do vazio. Neste ponto comum a ambos, existem, sozinhas porém, as pessoas de um outro tipo: as ditas certas e determinadas pessoas. De todas, são as piores (o que é ser mau afinal?) mas as mais fáceis de identificar no seio de anónimas multidões, em redes de contactos, de conhecidos, de amigos e até em meios familiares. Estas, na sua generalidade, são alvos de inúmeros qualificações pejorativas, de boatos infundados, de apontamentos digitais e de mais eu sei lá. Até bodes expiatórios chegam a ser. Deste que sejam ruins qualidades ou do tipo duvidoso, estas pessoas tê-las-ão de certeza, de uma ou de outra forma. Há, assim, de facto, certas e determinadas pessoas com certas e determinadas características que as tornam certa e determinadamente únicas. Tão únicas e específicas que quando falamos delas nem precisamos de as referenciar pelo nome: à partida, o nosso interlocutor, seja ele um sujeito individual ou colectivo, perceberá com relativa astúcia de quem estamos a falar. Se, em cima disto tudo, adicionarmos um tom irónico e sarcástico ao falatório, tudo parecerá bem mais claro do que naturalmente já é. Posto isto, é castiço notar que a natureza intrínseca deste certo e determinado tipo de pessoas é, em si mesma, auto-suficiente quer do ponto de vista da referência quer do da qualificação. Por um lado, a generalidade da abstracção, que é qualidade da definição deste tipo de sujeitos, induz um carácter subtil e subliminar ao objecto definido, impossibilitando a total e correcta identificação deste último. Por outro lado, conhecendo muito bem o contexto da conversa é possível inferir, sempre acompanhado com um grau de incerteza evidentemente, de que certas e determinadas pessoas estamos ou está o nosso interlocutor a falar. A precisão da inferência dependerá, claro está, da habilidade de dizermos o dito pelo não dito, sem termos dito nada afinal e na capacidade de bom entendedor do nosso ouvinte e do seu à-vontade com o contexto da tagarelice. Em último caso, se por ventura a inferência não for de todo possível, pois podemos, por exemplo, não conhecer essas pessoas de quem se (mal?) fala, surgirá um mecanismo de transferência por indução que particularizará esses sujeitos abstractos em sujeitos que conhecemos bem. Dito de outra forma, se alguém nos falar de certas e determinadas pessoas que, em boa verdade, não conhecemos, o que acontecerá é que nós próprios iremos pensar, em segredo, em certas e determinadas pessoas que, agora sim, conhecemos bem e que encaixam no perfil infame de que nos fala o nosso interlocutor. Em suma: este texto é para vós, certas e determinadas pessoas. A carapuça serviu a alguém?  (começo a tornar-me repetitivo). Eu cá já tenho a minha e que bem que ela me fica...

quinta-feira, junho 19, 2014

Conversa fiada

Se, por um lado, o desenvolvimento de conversa pode ser enganador, o seu oposto, isto é, o não desenvolvimento de conversa, que é como quem diz, a tendência para o silêncio e, em casos extremos, para ignoração, é, sem qualquer sombra de dúvida, a revelação quase absoluta do desinteresse alheio. Digo 'quase' por uma questão de prudência, certo de que pouco sei sobre estas matérias. Sinto-o apenas das experiências subjectivas que se vão realizando entre mim e o mundo sombrio do comportamento humano e, em particular, do género feminino. Género este que certamente se equivale ao seu incongénere, mas que de mim merece, por óbvias razões, especial atenção. Assim, e desta forma, partilho esta visão consciente cujo viés opinativo se radicaliza meramente no género que me foi talhado pelo destino. Outras visões haverão e adianto que de mim apenas terão todo o merecido respeito.

Rematando as pontas soltas provocadas pela embriaguez de juízo, declaro, aqui e agora e, com algum grau de confiança, para o futuro, a minha aversão a conversa fiada. Portanto, trelas apalavras não combinam comigo. Ou se conversa com pés, tronco e cabeça, ou então, se é para andar a apanhar cacos de pequenas carências escondidas, a tapar fendas de atenções não atribuídas e a equilibrar défices de carinho mimoso, obrigadinho, mas passo...

sexta-feira, junho 06, 2014

Moments #8

Deixei-te viver assim, longe de mim. Morri para te dar vida, aquela que querias. E depois? Nada. Depois nada! Absolutamente nada! Note-se que morri, sim, mas para ti; eu cá continuo vivinho da silva...


segunda-feira, junho 02, 2014

Correr

Se pudesse, juro-te, corria até ti. De certa forma ainda corro, à minha maneira, daquela maneira em que se está parado e se espera que as coisas corram até nós. Porque o movimento é algo tão relativo como o amor e o tempo que os separa, a acção de correr até algo pode também ser vista como a acção desse algo a correr até nós. E é isso que faço sempre que te desejo um pouco mais do que o normal: relativizo todas as minhas corridas cujo destino culmina em ti.

domingo, junho 01, 2014

Soluço

Olha, olha! Ah não, esquece, não foi nada, apenas impressão minha. Pensei que senti, mas foi um soluço de sentimento que me contraiu o diafragma e, assim, me agitou o coração entusiasmado de susto. Acalmei agora, desculpa ter alertado a tua atenção de forma inadvertida.

Revisited #1

  Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...