Existem sobretudo dois tipos de pessoas: as de um certo tipo e as de um determinado tipo. As do tipo certo, destacam-se pelas suas particularidades magnificas que pouco interessam de momento; as do tipo determinado detém de uma especificidade aterradora que igualmente não é para aqui chamada agora. No entanto, e como já dei a entender, não é destas que hoje aqui vou falar. Tratam-se de dois tipos não complementares, sendo a sua intersecção diferente do vazio. Neste ponto comum a ambos, existem, sozinhas porém, as pessoas de um outro tipo: as ditas certas e determinadas pessoas. De todas, são as piores (o que é ser mau afinal?) mas as mais fáceis de identificar no seio de anónimas multidões, em redes de contactos, de conhecidos, de amigos e até em meios familiares. Estas, na sua generalidade, são alvos de inúmeros qualificações pejorativas, de boatos infundados, de apontamentos digitais e de mais eu sei lá. Até bodes expiatórios chegam a ser. Deste que sejam ruins qualidades ou do tipo duvidoso, estas pessoas tê-las-ão de certeza, de uma ou de outra forma. Há, assim, de facto, certas e determinadas pessoas com certas e determinadas características que as tornam certa e determinadamente únicas. Tão únicas e específicas que quando falamos delas nem precisamos de as referenciar pelo nome: à partida, o nosso interlocutor, seja ele um sujeito individual ou colectivo, perceberá com relativa astúcia de quem estamos a falar. Se, em cima disto tudo, adicionarmos um tom irónico e sarcástico ao falatório, tudo parecerá bem mais claro do que naturalmente já é. Posto isto, é castiço notar que a natureza intrínseca deste certo e determinado tipo de pessoas é, em si mesma, auto-suficiente quer do ponto de vista da referência quer do da qualificação. Por um lado, a generalidade da abstracção, que é qualidade da definição deste tipo de sujeitos, induz um carácter subtil e subliminar ao objecto definido, impossibilitando a total e correcta identificação deste último. Por outro lado, conhecendo muito bem o contexto da conversa é possível inferir, sempre acompanhado com um grau de incerteza evidentemente, de que certas e determinadas pessoas estamos ou está o nosso interlocutor a falar. A precisão da inferência dependerá, claro está, da habilidade de dizermos o dito pelo não dito, sem termos dito nada afinal e na capacidade de bom entendedor do nosso ouvinte e do seu à-vontade com o contexto da tagarelice. Em último caso, se por ventura a inferência não for de todo possível, pois podemos, por exemplo, não conhecer essas pessoas de quem se (mal?) fala, surgirá um mecanismo de transferência por indução que particularizará esses sujeitos abstractos em sujeitos que conhecemos bem. Dito de outra forma, se alguém nos falar de certas e determinadas pessoas que, em boa verdade, não conhecemos, o que acontecerá é que nós próprios iremos pensar, em segredo, em certas e determinadas pessoas que, agora sim, conhecemos bem e que encaixam no perfil infame de que nos fala o nosso interlocutor. Em suma: este texto é para vós, certas e determinadas pessoas. A carapuça serviu a alguém? (começo a tornar-me repetitivo). Eu cá já tenho a minha e que bem que ela me fica...
quinta-feira, junho 26, 2014
Revisited #1
Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...
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Já te disse isto hoje? E ontem, contei-te? Perco-me na minha própria repetibilidade sistemática, onde procuro arranjar maneira de te contar ...
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Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...
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Pergunta-me se ainda és o meu fogo se acendes ainda o minuto de cinza se despertas a ave magoada que se queda na árvore do meu sangue Pe...