quinta-feira, julho 31, 2014

Random #9

Até quando te sentirei
ao virar das esquinas
dos quarteirões
das memórias
por onde me perco
dias a fio?

Até quando hesitarei
diante dos ambíguos cruzamentos
de opções recursivas,
sem regra geral
que me guie numa
concreta decisão
que me valha
um sentido,
uma direcção,
um fim?

Até quando, onde,
diz-me tu.

segunda-feira, julho 28, 2014

Noite

Por vezes, ao deitar,
penso como seria ter a tua companhia.
Como seria, por exemplo,
dar-te um beijo de boa noite,
e adormecer ao teu lado?
E depois, na continuação imparável do tempo,
já no outro dia, de manhã,
acordar para ti e ver-te
ainda a sonhar?

A que saberá tudo isso?

Sobra-me somente
o aroma subtil da tua pele,
em jeito de amostra degustada
que não satisfaz.
Nada agora me é permitido
Já o foi, sem dúvida,
mas por breves instantes
que se esqueceram de acontecer
e que poucas satisfações
dão à memória cansada e envelhecida.

Não obstante,
beijo-te à revelia com estas palavras.
As mesmas que sempre te ofereci
(e ofereço!),
embrulhadas com carinho
e laços de saudade,
que nem o tempo,
nem o espaço,
nem ninguém 
(nem nada!) 
será capaz de adormecer.

Porque só tu sabes (e eu!),
em mútuo segredo arranjado,
que estes beijos e estas palavras 
serão só e sempre para ti:

boa noite.

domingo, julho 27, 2014

Quote #20

" Sempre amei por palavras muito mais
do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero."

(Alice Vieira)

segunda-feira, julho 21, 2014

Arco-íris

E porque não,
voltar atrás no tempo,
(que cliché...)
para nos trazermos,
tal como éramos,
tal como fomos,
de volta,
ao presente absoluto?

Quero-te de novo,
como nunca tive,
como jamais te terei.
Enfim,
quero esse passado
transladado para o instante do agora
e ressuscitado pela esperança divina
de ainda me quereres um bocadinho.
Apenas um naquinho de quase nada bastava
para correr até ti num veloz piscar de olhos.

Para ti corro sempre,
como um tonto
(tal como me apelidavas de forma justa mas carinhosa)
que corre atrás de um arco-íris de amor
na ilusão sem pés nem cabeça de o conseguir roubar
só para mim.


domingo, julho 20, 2014

Random #8

Ora essa, porque não? Bora lá, vamos em frente, saltemos para os mistérios embrulhados em espuma de fantasia engraçada, mas sorrateira. Calminha! Tão calminha que ela é, a fantasia. A fantasia e tu. Mas tu és maravilhosa, muito mais do que fantástica, muito mais do que real. Mas ambas não se querem mostrar, as marotas. Devem pensar que ainda tenho idade para andar a jogar às escondidas. No entanto, penso e apercebo-me: não é que tenho mesmo idade para tal coisa? Não há idade para se jogar ao esconde-esconde e ao surge-surge. Um, dois, três, é a minha vez de contar. Cheguei o número combinado. Pronta ou não, aqui vou eu. 

Aguentas-te, ou não?

Random #7

Quero abraçar-te, só isso, mais nada, meramente abraçar-te. Não precisamos de falar. Um simples abraço, com o qual eu te sinta mecanicamente, sensorialmente, suavemente perto de mim. 

Queres?

quinta-feira, julho 17, 2014

Volta

- Quantos queres? Sim, desejos, quantos queres?
- Eu não quero mais desejos, já tenho o que me é suficiente. Quero voltar. Mas tens que me vir buscar. Não sei o caminho de volta a ti. Busca-me onde me deixaste, ainda cá estou. Até lá, volta e meia, penso-te eternamente...

sábado, julho 12, 2014

Quote #19

" Atticus: How do you do it Hank? 
Hank: Do what? 
Atticus: The woman that you love is out there and you know you can't have her. How do you even get up in the morning? 
Hank: Well the booze is always helpful and so is the art. Everything that I write is either for her or about her. So I'm with her, even when I'm not, in my writing." 

 in Californication, Season 6, Episode 12

terça-feira, julho 01, 2014

Sardas

Até podia mentir-te, pois podia. Era numa boa que te mentia. Mas para quê? Para que estupidez derradeira? Cansa-me mais mentir-te do que confessar-te. Tenho saudades das tuas sardas; nem com uma fiquei para recordação, nem daquelas mais clarinhas que quase não se notam. E pronto, era isto! Assumo, de peito aberto cheio de orgulho, que sou um preguiçoso terrível. Fazeis-me falta, tu e as tuas sardas.


Aleatory #5

Ainda cá estou, como sempre nunca deixei de estar, no mesmo lugar, esse que ambos explorámos sozinhos. A que horas lá?