O tempo é, meus caros, relativo de facto. Não falo desse tempo físico que se usa para medir a idade das coisas, mas daquele outro tempo que se relaciona com as disponibilidades e motivações nas relações sociais. Todos nós conhecemos, de certo, um conjunto de pessoas que nunca têm tempo para nada. Pessoas que se perdem nas redundâncias exaustivas de desculpas tão inocentes e tão irrealmente fundamentadas que se resumem, de sucinta forma, em expressões tão diversas que vão desde a frieza e objectividade da "Não tenho tempo!", até às mais discretas e simpáticas como é o caso da "Fica para a semana, pode ser?". Para essas pessoas, que naturalmente não terão tempo para ler este texto, eu queria deixar uma mensagem. Claro que esta minha opinião, sendo direccionadas para as pessoas que não têm tempo e, portanto, como já referi, não poderão, de forma alguma, ler este pequeno texto, ir-se-á perder na infinitude de uma solitária ironia onde ela própria, a mensagem, deixará de o ser, uma mensagem, pela simples ausência de sujeitos que a recebam.
Não obstante e com esperanças que a minha teoria tenha graves falhas, deixo-a aqui perdida: para vós muito ocupados, tudo o que me dizeis é treta. Escusais de me atirar com eufemismos bonitos, a mim não me enganais vós, eu poupo-vos esse delicado trabalho.
Este tempo de que falo não existe por si só, portanto, também não se ausenta por vontade própria. Este tempo constrói-se, guarda-se, reserva-se em função da motivação específica que temos para estar com determinada pessoa. Por mais ocupadas que sejam as nossas vidas, há sempre margem para esse tempo de dedicação, de convivência, de conversa, de atenção e de exclusividade. Quando queremos, há sempre tempo para tudo. Pode ser pouquinho, mas há. Ele está lá. Quem não tem tempo, e principalmente aqueles que nunca têm tempo para nós, é porque simplesmente não o querem ter. No fundo, nós não temos culpa de não ser suficientemente importantes para essas pessoas, nem elas, obviamente, nem ninguém, de uma forma mais ou menos geral. Mas peço-vos, não enrolem mais a coisa. Sejam honestos e directos. Eu levo isto à letra. E mais uma vez, escusam de me vir com tretas
Não guardo qualquer rancor a essas pessoas. Apenas fica uma leve mágoa pouco importante que passa rápido com o tempo apressado. Se, por acaso, essas que tenho em mente, por milagre, lerem esta mensagem, saberão que estou a falar delas. Muitas carapuças, com o tamanho certo, irão servir em muitas cabeças. Não terei qualquer problema em vos dizer isto na cara. A questão que surge agora é, tereis vós coragem de me enfrentar? Aqui fica o desafio para quando tiverdes tempo...