segunda-feira, março 25, 2013

Sede

Tenho ciúmes de ti. Por seres tu e acompanhares-te a ti própria sempre. Invejo-te a companhia. Também queria estar contigo, tal como estás sempre contigo própria. Cobiço-te a alma e o corpo. Quero roubar-te de ti própria. Ai...mas não consigo. Tu própria és tu. Subtraí-la de ti seria diminuir-te à inexistência  de uma singularidade persistente. Cedo. Aceito-te a ti e a ti própria, desejo-vos a ambas, como uma única. És a tua existência plural de significado em mim, como uma iluminação de saber consciente que me desperta a curiosidade infantil  de te querer e de te absorver como uma esponja em secura. Tenho sede. Quero beber de ti, o meu elixir de uma felicidade engraçada, subjectivamente engendrada em função da necessidade que tenho de ti. Procuro-te, assim, ansioso, neste árido deserto em que se tornou o meu viver desde que partiste. Espero-te, estarei aqui quando voltares.

Amigos

Acredita que te amo. Espera, retiro o que disse. Amo-te muito, assim é que é. Acreditas em mim? Achas pouco ou exagero? Interessas-te, ao menos, se te amo ou não? Sei que tentas fingir uma indiferença a olhos vistos. Mas eu não te observo com o olhar. Não com esse olhar corriqueiro de quem olha sem sentir, de quem olha de forma distraída e caótica. Olho-te como um cego que é capaz de olhar com todos os outros sentidos. Assim, desta forma extraordinária de te olhar, observo-te de forma subtil e sinto que essa tua indiferença é um fachada catita que te cala o coração. Mas não faças isso, deixa-o falar à vontade. Não te preocupes com as sandices que ele possa proferir. O meu também as diz. Quiçá poderão entender-se bem e ser bons amigos, já pensaste nisso? Eu já. O que é o amor se não uma amizade promovida ao topo da hierarquia dos íntimos sentimentos sensíveis em prol de outrem?  Não há, para mim, distinção entre amor e amizade. É, assim, natural que se misturem estes conceitos que, em boa verdade e na sua essência, são o mesmo. Atenção, na sua essência são, sim, o mesmo conceito. No entanto, nas suas superfluidades necessárias, são diferentes, admito-o. Não se trata de uma diferença de opostos, mas uma diferença de complementares. Estes dois sentimentos complementam-se e estendem-se de forma natural um ao outro. Enfim, continuo a dizer, complicar para quê? Sejamos felizes e amigos, o resto surgirá naturalmente, se de forma natural tiver que surgir:)

terça-feira, março 19, 2013

Presente

E agora, o que sobra?
Sem ti, o que há mais?
Há a sombra solitária
De dois corações partidos
Em mil pedaços fractais,
Mil sombras,
Mil sentimentos mal sentidos,
E agora, o que sobra?
Sobram passado e memórias.
Sobram partilhas e recordação
Estórias?
Sim, tens razão.
Tudo acaba por sobrar,
Tudo acaba por ficar a mais,
Nesse dia quando já não
Precisamos de tudo.
Sobra-me agora o presente,
Porque perdi o futuro.

Liberdade

E assim te vejo e te respiro fugazmente como uma brisa que foge com o vento apressado. Encontrou-te neste reencontro de sentidos partilhados de forma eterna e desproporcionada. Ao mar, aqui ao lado, invejo-lhe a teimosa persistente de ficar em terra. As suas tentativas onduladas de viajar pelo seco desconhecido, morrem sugadas pela areia oca em secura permanente e rápida. Tal como eu, ambos tentamos alcançar algo que sistematicamente não conseguimos atingir. Corremos mas o chão escorrega, encerrando-nos virtualmente numa constância espacial tripartida pelo espaço imobilizado. Sopro a favor da corrente do vento, tento contrabalançar-me sem cair. Estou preso, de facto, eis a minha iluminação. Estou preso à esperança de te alcançar e à fé solitária que tem vindo a trilhar caminho por mim. Apercebo-me que não pretendem acompanhar-me mais. Para partir, para retomar a viagem em direcção a esse desconhecido medonho, terei que as deixar, mas antes, é impreterível que me desamarre delas. Não é fácil. Já alguém dizia que a esperança é a última a morrer, mas eu terei que sobreviver sem ela. Serei uma excepção? Lutarei por isso. Tenho que ser excepção. Já está, o grilhões estão desbloqueados. Foi fácil, mais fácil do que pensava. Tão fácil que me faz envergonhar. Deixo a esperança aqui caída abraçada à fé de te ter. Elas safa-se-ão sozinhas sem mim... Estou, assim, liberto em liberdade libertadora, avanço, com medo, mas com entusiasmo. Estou com pressa, tenho que ir, não há mais tempo, acabarei este texto quando voltar, se voltar...

segunda-feira, março 18, 2013

Destino

Se te dissesse que te amo,
acreditarias em mim?
Gozarias comigo, suponho.
Brincarias com a infantilidade
Da minha declaração apressada,
Estampada na minha face cor-de-rosa.
Perdoa-me se te julgo ruim
Divindade que exige e castiga.

Às vezes não te suporto.
Outras vezes, perco-me de amores por ti.
Neste jogo dicotómico,
Encontro-te teimosamente bela,
Não arredando pé dos meus pensamentos.
És sempre tu.
Bem ou mal, tu és sempre
Tudo aquilo em que sempre penso.

Suportar-te-ei para sempre?
Aguentarei para sempre este pensar em ti solitário,
E distante de ti?
Ninguém sabe, nem o destino.
Mas o destino é alguém?
Mesmo que fosse, não seria ninguém
Para talhar a minha vida e o que quero dela.

Sobre esta última,
Sou eu quem se tem que decidir.
Pegar ou lagar-te?
Diz-me tu...




sábado, março 16, 2013

Futuro

Quando duas pessoas, apesar de longe, se querem de mútua forma, perdem-se em tentativas e esforços suados de um reencontro remoto situado à distância encurtada pela saudade. Se isto falha, é porque uma das partes, ou ambas, estão a falhar. Não vale a pena especular mais, as coisas são como são, a realidade é mesmo isso, real. Não há forma de a contornarmos, sobretudo quando as coisas não dependem de nós. Neste sentido, desistir não é vergonha, é coragem. Força é deixar de acreditar num futuro por nós tão acarinhado e desejado. Força é largar tudo isso e seguir em frente com a dúvida do que poderia ser se tivéssemos lutado e conseguido. Essa dúvida atormenta-me o espírito, mas, a partir de agora, terei que viver com ela para sempre. Nunca saberei a resposta, nunca testarei as minhas conjecturas epopeicas de uma vida conjunta em torno da felicidade, da paixão e da partilha. Uma vida conjunta contigo. Não sinto, vindo de ti, vontade de nos reencontrarmos. Não é impossível, mas mesmo que um reencontro o fosse de facto, a novidade da tua vontade reluziria de forma diferente. É por isto que afirmo que não vale a pena a acreditar ou sequer sonhar com esse futuro luzidio que tantas vezes reconstruí nos meus pensamentos. Está na hora de acordar e começar a pensar em mim...

quarta-feira, março 13, 2013

Segredo

Abraça-me. Abraça-me com força. Dá-me mais 5 minutos do teu aroma suave, do teu calor aveludado, da tua pele macia, não me largues já. Ai...não quero mais sair daqui, deixa-me abraçar-te para sempre. Brinco. Bem sei que não posso, que não me pertences, que o meu coração não está em ti. Porém, tu estás aqui e aqui. Não me vês mas acabei de apontar para o meu peito e para a minha cabeça. Estarás sempre lá, de forma omnipresente em ambos os lugares. Abraça-me com mais força, ilude-me de que tens medo de me perder e que por isso não me queres deixar ir embora agora. Vamos fazer de conta que sentes a minha falta quando não estou, vamos fingir que sentes a minha ausência presente mesmo quando estou contigo. Sejamos eternos neste momento finito que nos embrulha com carinho e nos dá esperança. Quero-te mais do que imaginas, mais do que eu próprio consigo sonhar quando durmo. Porque dormir é pouco, sonhar contigo é subvalorizar a tua pessoa, é achar que o universo sonhado é suficiente para te abarcar em toda a tua dimensão e beleza. És muito mais do que isso, és infinita e os meus sonhos, mais cedo ou mais tarde, acabam. Podem voltar, e voltam, garanto-te disso, mas em jeito de pequenos finitos que envergonham a realidade de que és feita e a copiam à descarada. És uma constante absoluta dentro do meu pequeno e humilde universo que se construiu em teu redor. Mais, não és só isso, és o próprio universo para onde me mudei e comecei a viver. Continua a abraça-me, nada mais é agora mais importante do que os teus braços a agarrarem-me com vontade de desejo. Diz-me ao ouvido, em segredo mútuo, que me queres para sempre. Não faz mal que esse sempre dure apenas quanto durar este abraço, o que me interessa é me desejes querer para sempre. A tua vontade é que eu quero seja  grande e muito maior do que nós.

- Amo-te! - confesso-te em desabafo.
- O quê?
- Soei-te muito dramático? Infantil talvez?
- Não, de todo. Apenas não estava à espera.
- E então?
- Então nada, fizeste uma afirmação, não uma pergunta.
- Nesse caso, deixa-me perguntar-te: amo-te?
- Diz-me tu, amas-me?
- O que para ti é amar alguém?
- Amar é preocupação, é sentir falta, é precisar, é partilha e companhia. É confiança, respeito, amizade, é um não haver segredos constante, é conversa, é brincadeira. É sê-lo sempre.
- Concordo, mas só isso?
- Achas pouco?
- Eu acho muito pouco, o que sinto por ti faz-me sentir muito mais para além do que mencionaste.
- Ai é? Que tipo de coisas então, conta lá.
- É segredo.
- Agora já há segredos entre nós? Qual foi a parte de "não haver segredos" que não compreendeste e com a qual concordaste?
- Tens razão. O segredo és tu.
- Eu, como assim?
- Tu és o segredo do amor que sinto por ti.

A cor rosada da tua face brota com uma intensidade anormal. Toco-te. Ferves ao toque e ao olhar. Está na hora de nos despedirmos. Não quero mas tem que ser. Ficou frio de repente. Promete que nos voltamos a abraçar amanhã. Promete-me isso.

Até amanhã!
Amo-te.

Revisited #1

  Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...