Mais à frente, encontro uma paragem de autocarros onde me abrigo por minutos. O anúncio publicitário era relativo a um nova colecção de langerie, que destronou a minha recém-feita teoria sobre marketing. Não pude sorrir indiferentemente, pois a minha boca estava aberta face a tanta beleza feminina. Que seios arrojados, que ancas tão bem definidas, que carinha laroca irresistível ao beijo. Todas estas configurações, engenhosamente ordenadas de modo a excitarem qualquer homem heterosexualmente bem orientado, fizeram-me lembrar da força da natureza que arrebentava à minha volta. A chuva, o caudal de água acumulado pelo entupimento das valetas, as folhas frágeis das árvores que esvoaçam de boleia com o vento irado, o som, todos os sons, os relâmpagos que estalam enfurecidos lá para cima, todo este movimento, esta energia eram fantásticos.
Comecei a correr e a gritar desalmadamente “Amo-te Natureza”. Comecei a delirar com tudo aquilo. Adorava os meus pés molhados, aquelas pingas constantes na ponta do meu nariz, os flashes, os trovões eram musica para os meus ouvidos que embalava a minha alma. Durante a maratona questionava-me se me estava a molhar mais ou menos do que quanto estava a andar normalmente. Mas a resposta pouco interessava, o importante era a água a cair sobre mim, era estar molhado de natureza. O que eu desejava era sentir aquele espectáculo com todos os meus sentidos, era sentir-me parte daquela manifestação de energia.
As minhas botas chapinhavam nas poças com alegria. Cantava, falava, retomava a gritaria. Rebolava pelo chão, fingia que nadava nas poças maiores. Quem me visse poderia pensar que eu andava a fazer um qualquer anúncio para uma qualquer associação ambientalista, ou que tinha escapado do manicómio. Porém, na ausência de câmaras de filmar e de todo o pessoal e material necessário para uma produção televisiva, a segunda opção poderia parecer mais plausível.
Tudo acabou, contra a minha vontade, com um grande trambolhão seguido do tal espirro ameaçador, que finalmente saíra em liberdade total. Um atacador desapertado fora a causa da manifestação pura, ou mesmo, demonstração da lei da gravidade.
Voltei para casa, cambaleando, cheio de sono e de dor. Despi-me, vesti o pijama, sequei o mais que pude a cabeça com uma toalha, e caí na cama, penso que adormecendo mesmo durante a queda…
Consegui dormir finalmente…
domingo, março 25, 2007
Revisited #1
Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...
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Já te disse isto hoje? E ontem, contei-te? Perco-me na minha própria repetibilidade sistemática, onde procuro arranjar maneira de te contar ...
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Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...
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Pergunta-me se ainda és o meu fogo se acendes ainda o minuto de cinza se despertas a ave magoada que se queda na árvore do meu sangue Pe...