quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Felicidade

Sabes que aqui estou. Sei que sabes que aqui sempre estarei. Espero por ti em pequenos momentos infinitos de esperança desordenada mas reconfortante. Aqueço-me mornamente nessa suave incerteza do futuro. Quero-o abraçar com a destreza de um corajoso que sabe o que faz. Não me rendo às evidencias certeiras, aos factos frios e cruéis que me tendem a impingir a crença num destino determinado à margem da vontade terrena. Quero torcer pelo livre arbítrio e julgar-me capaz de uma responsabilidade moderada pelas minhas acções e pensamentos. Quero com esta atitude perceber que posso contribuir para a construção desse destino incerto em prol de mim e, sobretudo, de ti. Desejo lá chegar contigo, a teu lado. Independentemente de como te encontrares, quero ver-te a sorrir, feliz. Será pedir muito? Espero, num entretanto eterno, por esse momento decisivo, garantindo-te que todos os dias trabalharei suado e exausto para a edificação ao alto, bem lá no alto, da tua felicidade. Esse é, mais do que tudo, o meu grande e único objectivo perante a servidão que te presto, com orgulho e amor. E agora? Agora nada. Agora tudo!

domingo, fevereiro 17, 2013

Inércia

Tu aí estás e eu aqui estou. Assim separados pelo hábito de uma casualidade rotineira. Sei que esta falta que sinto, é só minha e não, também, tua. É difícil controlar esta inquietação que me abraça o corpo dos sentimentos afónicos. No entanto, estou parado. Sinto-me neutro, anulado, um zero. Estou sem reacção e imóvel. Sinto uma inércia sentimental a apoderar-se de mim. Os sentidos dormem. Custa-me, por vezes, sentir-te como dantes. É essa energia espectacular que dantes vinha de ti que agora teima em atrasar-se. Sigo a minha vida, mas faltas-me no caminho. Irei reencontrar-te de novo? Paro por momentos indecisos. Olho para trás e vejo-te, ainda. Volto ou continuo? Arrisco-me nessa probabilidade incerta de me cruzar contigo de novo, noutro tempo, noutras circunstâncias? Nada é irreversível, não entre nós. Como te disse, hoje estou pobre, de espírito, de tudo, até de inspiração. Serei sensato, vou parar para descansar. Deixo essa decisão para um dia de brilho, para um dia em que te ouça a chamar por mim, com saudades, tal como eu te chamo, todos os dias, em silêncio mudo...

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Tudo

Miro esse quadro vazio em que se transformou a minha alma. Que arte e engenho te esculpiu essa imensidão rasa de um nada plano sem conteúdo? És objecto primordial da objectividade projectada num instante subjectivo de interpretação pessoal lata. Eu, o sujeito confuso sem jeito verbal com que me possa conjugar, exprimo-me em desordem com esse pintar da branca tela solitária. No colorido abstracto da paleta mental, nascem pretos e tons de cinza, poluição ambígua desse inconsciente medroso e apoquentado. Continuo a misturar. Os arco-íris de outrora dão vaga aos dramáticos tons monocromáticos que, agora em maioria, arrastam as cores sobrantes para um abismo neutro e sem sentimento. Misturei de mais e desalmadamente. Perdi o controlo sobre as emoções. Senti demais tudo isto que sinto. Criei sentimentos que não existiam, ilusórios sentimentos por mim inventados. E, por sentir em excesso aquilo que não seria capaz de abarcar, caí, desmaiado, para este chão rude do atelier da vida. Fui guloso e gerei fome. Fome induzida pelo desejo de tudo sentir, ao mesmo tempo, com um só coração, o meu. Pensei demais, a razão explodiu. Vejo nada, exceptuando esse preto carregado com que continuo a pintar, sem qualquer controlo aparente, a minha tela desalmada. Pinto nada ou um todo hiperbolizado pela ganância de tudo sentir? Calibrei mal as minhas proporções cromáticas. Gerei um negro do qual não me consigo afastar, não para já, não agora. Apartam-se de mim os silêncios e os vazios, os significados do nada e do inútil. O superficial e o desinteressante esvaziam-se em estouros preenchidos como balões furados pelos sobejos de uma alma aflita. A tela está preenchida, nenhum branco incerto reluz intenso como no início. É isto que sinto, tudo. Todas as cores misturadas num grande escuro geométrico onde me projectei. Aqui ficam, aqui guardo os meus sentimentos, ainda frescos ao olfacto e ao toque. Deixai-os secar em sossego...

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Existência

Se a memória não me falha, contaste-me, em segredo prometido, que gostavas de ler as minhas cartas, boas ou más, porque davam algum significado e importância à tua existência, que neles descobrias um pouco de mim e também de ti. Elogiou-me esse doce comentário. Exagerado quiçá, mas não por isso menos genuíno. Ao fim e ao cabo, um exagerado não é mais do que uma realidade subjectivamente aumentada por desejos, motivações e vontades orientadas para um fim que pode estar, ou não, conscientemente bem definido no berço racional dos nossos pensamentos. Independentemente disto, a tua existência é, para mim, bem mais essencial do que imaginas, bem mais imprescindível do que eu consigo admitir sem corar. Saber que existes conforta-me, faz-me sentir seguro e protegido, mesmo a esta inevitável distância que nos separa. Mesmo longe, o conhecimento de saber que aí estás alivia-me a dor da saudade. Com este lacrimejar saudoso, escrevo para ti. Esta é a minha humilde maneira de me aproximar daquilo que sinto através de palavra inteligíveis. Não é fácil, nem sequer minimamente justo. Perdoa-me se falho nesta tradução de 'aquilo que sinto' para 'aquilo que escrevo'. As combinações de palavras são infinitas, mais limitadas são as combinações de frases com sentido compreensível. Infinitamente complicados são os meus sentimentos agitados. Vou parar, por agora. É tarde, tenho sono e cansaço entranhados no corpo mortal. Podia continuar, até podia, mas só me iria repetir e repetir, caminhando continuamente nesta espiral recursiva que converge para ti. Bom ou mau, mais um ensacado de palavras termino em tua função. Ainda pensas que a tua existência não é fundamental para a minha? Pensa outra vez...

terça-feira, fevereiro 12, 2013

Reencontro

Num acto surpreendente de auto-consciência, apercebo-me de um limbo de existência alternativa, situado algures entre os meus pensamentos e o meu coração. Nesse espaço quase desértico, passeia incansavelmente, em círculos infinitos, esta ideia que há muito ameaça notar-se mas que só agora se esforça para se exprimir de forma clara. Ouço-a atentamente, sussurra-me sobre ti. Ainda escutando-o, viajo incontornavelmente no tempo até ao dia em que, aparentemente, nos conhecemos. Relembro-me agora, de facto ele tem razão, de uma suave sensação de familiaridade presente no teu olhar reconfortante quando este, pela primeira vez, encontrou o meu e sorriu. Na altura, sob a vigilância dos rigorosos parâmetros avaliativos da razão, desvalorizei este reconhecimento ambíguo. Afastei-me da confusão perturbadora do avivar de uma memória perdida no tempo. Afastei-me mas não consegui, fugi mas não escapei. A dúvida, teimosa, permaneceu adormecida, pesadamente deitada sobre mim. Num instante repentino e dormente, uma esmagadora sensação de déjà vu surge-me de um clarão de memórias reprimidas que me cegam a consciência do momento. Retraio, embrulhando-me no meu próprio medo, assustado com a novidade. Acalmo. O que me aconteceu? Quem és tu? Pergunto-me numa retórica pessoal, consciente da impotência de me fornecer uma resposta. O medo fica lasso, dando espaço à coragem para brotar quando, ainda com a visão translúcida, vislumbro um vulto aproximando-se de mim. Esfrego os olhos, mas não resulta. Mais perto, comprovo, com segurança, que esse vulto de outrora, agora bonito e colorido, te pertence com rigor. És mesmo tu? Estranho. Mas eu a ti conheço-te desde sempre. Desde que existo como ser consciente e espiritual. Reconheço-te de outras vidas, de outros mundos, de outros universos paralelos. É isso, é isso!!! Como é que não me apercebi da tua identidade nesse ilusório primeiro dia em que, nesta vida, te vi? Como fui capaz de não te reconhecer, logo ali, no momento? Perdoa-me a desatenção de Morfeu. Hoje, e agora, iluminado por este despertar desconcertante, encontro o caminho para uma explicação fantasticamente realista para essa familiaridade primordial que senti no teu olhar encandeado. Encosto a minha razão nua à parede de espinhos do meu cepticismo casmurro, assassinando-a com violência. Não quero mais dormir, não quero mais pensar. Não me interessa criar ou sonhar mais. Tenho-te aqui. Deixa-me tocar-te. Sim és tu, és real, encontrei-te, finalmente encontrei-te. Tudo faz sentido à luz deste reencontro. A memória refresca-se de memórias passadas, de todos os momentos que vivemos, da amizade que partilhámos, das vida que construímos juntos em cada instanciação das nossas respectivas existências conjuntas. Não te vou largar mais, não nesta vida, não nesta viagem, que agora começa, mas que ambos ignoramos como e onde culminará. Ainda há tempo. Vamos-nos viver agora, à descarada, livres do sono opressor que nos afastou durante anos, durante tempos intermináveis. No entanto e infelizmente, tal como qualquer despertar tem, também, o seu descanso profundo, toda esta novidade é transitória e recursiva. Hoje acordados, amanhã dormentes e longe da consciencialização de quem fomos e daquilo que, na nossa essência e de forma eterna, somos um para o outro. É esta a nossa história, momentos de felicidade eterna, espaçados pelo tempo que teima em nos manter afastados. Aproveitemos enquanto dura este círculo, este reencontro. Gosto muito de ti, sempre gostei...

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Longe

Quero sentir-te, aqui e agora, sempre. Como hoje, como ontem, como amanhã, como nunca te senti. Quero ver-te em todo o lado, quero pensar-te em qualquer altura. Preciso de ti, quero-te, quero-te muito. Não obstante e insatisfeito com a finitude desse meu capricho, desejo desejar este desejo continuado de te querer. Isso é fácil, não custa. Difícil é esquecer-te. Árduo é não depender de ti. Mas para quê essa liberdade? Não quero! Fico contigo, eternamente agarrado a ti, como um fungo que se alastra velozmente pelos poros suaves da tua pele. É desta relação parasita que vivo de ti, que me alimento de tudo quanto és, deliciando-me com a tua essência pura, bondosa, fantástica! Peco pela gula que me incrimina descaradamente e sem vergonha. Não escondo, assumo a minha culpa. Faz-me o teu prisioneiro servente, leva-me contigo. O meu castigo? Esse materializa-se em todos estes momentos infindáveis nos quais não te tenho perto de mim, para te sentir com a proximidade de todos os meus sentidos esfomeados e descontroladamente alarves. É em momentos como estes que, sentindo-te à distância em cinzas inflamada pelo tempo que corre apressado, escrevo para ti, sobre ti. Sobre o estado em que fico em função da tua ausência deliberada e ingénua. Não te apercebes, mas apercebo-me eu. O que sinto por ti não termina, não do meu infantil ponto de vista enviesado. Não, não lhe miro o fim. É nessa eternidade amena que aguardo por uma oportunidade, um espaço vazio que eu possa ocupar, mesmo que à justa e sem conforto. Sou vontade e desejo etéreos, mas maciços, que desejam existir em ti. Nada tenho, nada posso perder. Para quê? Não sei. Somente sei que é, assim, que eu espero por ti...

terça-feira, fevereiro 05, 2013

Competição I

Elegante. A minha teoria confirma-se. Não sou o único a olhar-te, nunca serei, jamais usufruirei dessa exclusividade encantadora que só em sonhos consigo alcançar. De volta à realidade, não estou sozinho. A concorrência aperta com a competição matreira a fitar-me a destreza evolutiva de ser mais, de ser melhor, de ser tudo para ti. Mas como ser isso tudo, o que é ser isso tudo? Tu defines as regras e os limites para as tuas exigências e caprichos. Nós ajoelhamos-nos perante a tua vontade. O jogo está criado e já começou. Está aberto o espectáculo aos gladiadores cegos pela paixão que afunila em ti, no antiteatro da tua atenção despreocupada e arrogante. A sentença está determinada. Só um sairá vencedor, só um sobreviverá, só a um tu irás apontar o dedo e vociferar 'tenho estado à tua espera'. Com isto realizo que, para ti, não me distingo dos demais, sou igual a tantos outros que aparecerem antes e surgirão depois de mim. Não sou especial, não constituo uma irregularidade nessa uniformidade que é esta arena de combatentes suados e exaustos. A única forma de me discriminar é vencer e, assim, ganhar o pódio da tua atenção e levantar o troféu do teu amor exclusivo. É isso que pretendo. É por isso que vou lutar?

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Ausência

Eis um dia de fraca inspiração, criatividade e imaginação. Estes elementos essenciais à criação artística, boa ou má, parecem falhar-me hoje. Seja como for, teimoso, vou insistir na tentativa forçada de expulsar algo cá para fora. Fazes-me falta, sabias? Apercebo-me que afinal não é tão fácil contar histórias longe de ti. Não, pelo menos, a esta distância silenciosa, durante este largo intervalo de tempo ruidoso que ainda perdura e me surge sem fim. Tento encontrar inspiração, tento encontrar-te a ti, minha musa. Frustrado, caio desgraçadamente na cruel impossibilidade de te ver, de te tocar e, sobretudo, de te sentir perto, junto a mim. Esta proximidade de que falo não se trata de uma necessidade física, de contacto ao tacto, ou do olhar. Refiro-me a uma proximidade comunicativa, de gestão de diálogo mútua. Em nada tem que ver com a realização física dos cinco sentidos esfomeados de estímulos apetitosos. A minha preocupação é outra. Preocupo-me em satisfazer uma ausência abstracta que me impossibilita de sentir e, então, de criar. Sinto nada, logo nada tenho para criar. Que faço agora? É este vazio que em mim fica quando não estás, é esta profunda ausência que se reconstrói dentro de mim sempre que te ausentas, que me imobiliza a literacia e que cala a voz da alma. Por onde andas? Preciso de ti...

sábado, fevereiro 02, 2013

Já te disse isto hoje?

Já te disse isto hoje? E ontem, contei-te? Perco-me na minha própria repetibilidade sistemática, onde procuro arranjar maneira de te contar o que sinto. Sim! Sim, tens razão...eu sei que já te contei isto, mas mesmo assim, quero tentar arranjar uma maneira diferente, uma nova forma de transmitir as coisas. Deixas-me tentar, mais uma vez? É que, por exemplo, não te chateias, não te aborrece estar sempre a ouvir a mesma lenga-lenga? Eu sei que não exiges tanto de mim, mas eu quero encarar isto como um desafio pessoal, como uma lacuna comunicativa que pretendo ultrapassar. Faço-o por ti. Eu sei que é parvo, mas o que é que queres? Nem tudo tem que fazer sentido. Os sentimentos fazem sentido, serão eles inteligíveis? Claro que não, pelo menos não todos, não este. Não obstante, a Natureza permite que eles existam e eles aí estão, fortes, robustos. Podem apenas existir na nossa cabeça, na nossa memória, como resultado de reacções electro-químicas, mas não é por isso que deixam de ser menos reais que a chuva, as montanhas ou os rios. Não concordas? Assim, as coisas parvas e sem sentido têm o mesmo direito à realidade que todas outras mais certinhas e matemáticas. Devemos então aceita-las e encara-las com a maior das naturalidades, estranhando-as quiçá, mas nunca leva-las à ignoração consciente. O caos de um sentimento é muito mais divertido que a o aborrecimento da trajectória de um projéctil Newtoniano. É desse colorido caótico, desse floreado delicado e gentil, que brota uma estrutura irregular, desconexa mas orientada para um fim: ser sentida. Não interessa por quem, nem para quem, ela apenas quer ser sentida e sendo, quer liberta-se, aproveitar enquanto dura e dar-se ao sentido último para o qual criada. Sim é isso, acertaste. Essa estrutura é esse tal sentimento desordenado que nutro por ti. Pode não fazer sentido, mas é sentido e, portanto, real. Rege-se pelas mesmas leis que qualquer outro elemento da Natureza. Compreendes?

Ah pois é, ainda mais uma coisa, ia-me esquecendo, cabeça a minha: já te disse, hoje, que gosto muito de ti?

Revisited #1

  Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...