quinta-feira, fevereiro 14, 2013
Tudo
Miro esse quadro vazio em que se transformou a minha alma. Que arte e engenho te esculpiu essa imensidão rasa de um nada plano sem conteúdo? És objecto primordial da objectividade projectada num instante subjectivo de interpretação pessoal lata. Eu, o sujeito confuso sem jeito verbal com que me possa conjugar, exprimo-me em desordem com esse pintar da branca tela solitária. No colorido abstracto da paleta mental, nascem pretos e tons de cinza, poluição ambígua desse inconsciente medroso e apoquentado. Continuo a misturar. Os arco-íris de outrora dão vaga aos dramáticos tons monocromáticos que, agora em maioria, arrastam as cores sobrantes para um abismo neutro e sem sentimento. Misturei de mais e desalmadamente. Perdi o controlo sobre as emoções. Senti demais tudo isto que sinto. Criei sentimentos que não existiam, ilusórios sentimentos por mim inventados. E, por sentir em excesso aquilo que não seria capaz de abarcar, caí, desmaiado, para este chão rude do atelier da vida. Fui guloso e gerei fome. Fome induzida pelo desejo de tudo sentir, ao mesmo tempo, com um só coração, o meu. Pensei demais, a razão explodiu. Vejo nada, exceptuando esse preto carregado com que continuo a pintar, sem qualquer controlo aparente, a minha tela desalmada. Pinto nada ou um todo hiperbolizado pela ganância de tudo sentir? Calibrei mal as minhas proporções cromáticas. Gerei um negro do qual não me consigo afastar, não para já, não agora. Apartam-se de mim os silêncios e os vazios, os significados do nada e do inútil. O superficial e o desinteressante esvaziam-se em estouros preenchidos como balões furados pelos sobejos de uma alma aflita. A tela está preenchida, nenhum branco incerto reluz intenso como no início. É isto que sinto, tudo. Todas as cores misturadas num grande escuro geométrico onde me projectei. Aqui ficam, aqui guardo os meus sentimentos, ainda frescos ao olfacto e ao toque. Deixai-os secar em sossego...
Revisited #1
Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...
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Já te disse isto hoje? E ontem, contei-te? Perco-me na minha própria repetibilidade sistemática, onde procuro arranjar maneira de te contar ...
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Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...
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Pergunta-me se ainda és o meu fogo se acendes ainda o minuto de cinza se despertas a ave magoada que se queda na árvore do meu sangue Pe...