terça-feira, fevereiro 12, 2013

Reencontro

Num acto surpreendente de auto-consciência, apercebo-me de um limbo de existência alternativa, situado algures entre os meus pensamentos e o meu coração. Nesse espaço quase desértico, passeia incansavelmente, em círculos infinitos, esta ideia que há muito ameaça notar-se mas que só agora se esforça para se exprimir de forma clara. Ouço-a atentamente, sussurra-me sobre ti. Ainda escutando-o, viajo incontornavelmente no tempo até ao dia em que, aparentemente, nos conhecemos. Relembro-me agora, de facto ele tem razão, de uma suave sensação de familiaridade presente no teu olhar reconfortante quando este, pela primeira vez, encontrou o meu e sorriu. Na altura, sob a vigilância dos rigorosos parâmetros avaliativos da razão, desvalorizei este reconhecimento ambíguo. Afastei-me da confusão perturbadora do avivar de uma memória perdida no tempo. Afastei-me mas não consegui, fugi mas não escapei. A dúvida, teimosa, permaneceu adormecida, pesadamente deitada sobre mim. Num instante repentino e dormente, uma esmagadora sensação de déjà vu surge-me de um clarão de memórias reprimidas que me cegam a consciência do momento. Retraio, embrulhando-me no meu próprio medo, assustado com a novidade. Acalmo. O que me aconteceu? Quem és tu? Pergunto-me numa retórica pessoal, consciente da impotência de me fornecer uma resposta. O medo fica lasso, dando espaço à coragem para brotar quando, ainda com a visão translúcida, vislumbro um vulto aproximando-se de mim. Esfrego os olhos, mas não resulta. Mais perto, comprovo, com segurança, que esse vulto de outrora, agora bonito e colorido, te pertence com rigor. És mesmo tu? Estranho. Mas eu a ti conheço-te desde sempre. Desde que existo como ser consciente e espiritual. Reconheço-te de outras vidas, de outros mundos, de outros universos paralelos. É isso, é isso!!! Como é que não me apercebi da tua identidade nesse ilusório primeiro dia em que, nesta vida, te vi? Como fui capaz de não te reconhecer, logo ali, no momento? Perdoa-me a desatenção de Morfeu. Hoje, e agora, iluminado por este despertar desconcertante, encontro o caminho para uma explicação fantasticamente realista para essa familiaridade primordial que senti no teu olhar encandeado. Encosto a minha razão nua à parede de espinhos do meu cepticismo casmurro, assassinando-a com violência. Não quero mais dormir, não quero mais pensar. Não me interessa criar ou sonhar mais. Tenho-te aqui. Deixa-me tocar-te. Sim és tu, és real, encontrei-te, finalmente encontrei-te. Tudo faz sentido à luz deste reencontro. A memória refresca-se de memórias passadas, de todos os momentos que vivemos, da amizade que partilhámos, das vida que construímos juntos em cada instanciação das nossas respectivas existências conjuntas. Não te vou largar mais, não nesta vida, não nesta viagem, que agora começa, mas que ambos ignoramos como e onde culminará. Ainda há tempo. Vamos-nos viver agora, à descarada, livres do sono opressor que nos afastou durante anos, durante tempos intermináveis. No entanto e infelizmente, tal como qualquer despertar tem, também, o seu descanso profundo, toda esta novidade é transitória e recursiva. Hoje acordados, amanhã dormentes e longe da consciencialização de quem fomos e daquilo que, na nossa essência e de forma eterna, somos um para o outro. É esta a nossa história, momentos de felicidade eterna, espaçados pelo tempo que teima em nos manter afastados. Aproveitemos enquanto dura este círculo, este reencontro. Gosto muito de ti, sempre gostei...

Revisited #1

  Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...