domingo, agosto 31, 2014

Guardar

Guardo-te ainda, aonde não sei,
perdida em mim, algures,
de alguma forma fantástica
impassível de compreensão.

Guardo-te bem. Descansa,
que estás segura comigo.
Protejo-te todos os dias,
da amnésia do tempo
e da distância míope.
Ferozes, estes atacam-nos todos os dias,
esfomeados das recordações que não têm, 
invejosos do amor que não podem sentir,
pois não são seres, nem sequer vivem,
apenas existem no vácuo sem sentido
da existência das coisas.

Mas eles roubam tudo, saqueiam corações,
mistérios, sonhos, desejos, projectos,
até beijos e olhares.
Todavia, feridas e dores também,
é o que nos vale.

Guardo-te, enfim, estupidamente alegre por ainda ter essa fracção de ti que outrora me ofereceste, essa partilha irreversível que não esqueço nem abdico e que todos os dias receio perder para o infinito frágil do esquecimento das coisas.

Moments #12

Preciso de te ver. Mais, preciso de te sentir. Diz-me onde e irei ter contigo num piscar de olhos que quase nem se vê. Onde estás? Diz-me onde estás, pois sei que ainda me lês. Dá-me um sinal, uma palavra, qualquer coisa que se veja, ou se sinta; dá-me qualquer coisa para que eu possa perceber que ainda não nos sentimos mutuamente indiferentes. E depois logo se verá, é incrivelmente simples; faças o que fizeres, dá-me um princípio por onde começar.

sexta-feira, agosto 22, 2014

Quote #21

" Esperar que voltes é tão inútil como o
sorriso escancarado dos mortos na necrologia dos jornais

e no entanto de cada vez que
a noite se rasga em barulhos e
um telefone se debruça de
uma qualquer janela

sinto que ainda ficou uma
palavra minha esquecida na
tua boca e que
vais voltar para a devolver "

(Alice Vieira)

domingo, agosto 17, 2014

Conversas

Sentado envolto de escuridão natural, distraio-me olhando para o céu distante e meto conversa com o Universo. Ele, entusiasmadíssimo, começa a contar-me da sua imensidão, da origem do tempo e do espaço, das galáxias que o povoam, da energia cósmica que o faz andar, dos planetas que lhe dão textura, das estrelas que o adornam, dos cometas que o divertem, ui! De tanta coisa mais, que nem imaginas. Quando chegou a minha vez no diálogo entre o mortal e existência física absoluta, falei-lhe de ti e ele sentiu-se pequeno e humilde. Tão humildemente pequeno como tão encantado que pediu que lhe falasse mais de ti. Aceitei, mas expliquei-lhe que não o conseguiria fazer numa só noite; que precisava de muitas noites e talvez nem essas bastassem - Talvez tantas quantas as estrelas de que tanto te orgulhas - disse-lhe. Confuso perguntou-me por que razão assim era. Respondi-lhe - Eu não sou infinito como tu!

quinta-feira, agosto 14, 2014

Moments #11

Pronto, lá está ela, é disto que falo. Volta meia volta, esta presença envergonhada espreita pelas cortinas da curiosidade compulsiva...


terça-feira, agosto 12, 2014

Mudança

Descobri uma maneira de alterar o passado. Não de viajar até ele, mas de o modificar, assim, digamos, à distância de uma vontade subtil. Ora vamos lá. Lembraste do último abraço que demos? Exacto, esse mesmo. Foi o último, ou melhor, é o último, já que continua a sê-lo! Todavia, pode deixar de ser o último e passar, por exemplo, para o lugar de penúltimo, basta quereres. Desta forma conseguimos, até certo ponto, alterar o passado que tantas vezes é deliberadamente tomado como fixo e imutável: Não!

Vês como juntos conseguimos alterar o forma como vemos o passado alterando consequentemente o próprio passado? Basta queremos. Eu quero, e tu?

sábado, agosto 09, 2014

Random #11

Queres estar?
Estejamos, já, a correr.
Queres ver?
Vejamos, como loucos.
Queres falar?
Falemos, como dantes.
Queres ler-me?
Bem, essa é fácil,
tu les-me.

Queres o quê?
Que verbo queres conjugar?
Conjuguemo-lo, com vontade.

Queres viver?
Sejamo-nos finalmente.


quinta-feira, agosto 07, 2014

Moments #10

- E agora, o que fazemos?
- Deixamo-nos estar à espera que o destino se concretize sobre nós. Quer queiramos, quer não, se não tiver escrito nas estrelas, nós jamais existiremos. É mandatório que esteja escrito nas estrelas.
- E o livre-arbítrio, não acreditas nele? Achas que o destino de cada um nós é-nos talhado à nascença, ou melhor, no momento da concepção?
- O livre-arbítrio existe na mesma; nós só temos acesso à sua concretização particular que ocorre em cada um dos sucessivos instantes que nos vão acontecendo. Esses instantes vividos, pertencem todos ao presente, porque só o presente existe; tudo o resto são memórias e especulações, recordações e desejos.
- Não entendo então!
- Alguém entende?

terça-feira, agosto 05, 2014

Moments #9

Se encontrar-te nesta efémera eternidade é olhar-te à suave distância de uma recordação longínqua, desejo reencontra-te de novo; mas que seja como da primeira vez, com aquela novidade infantil que é inata à novidade sorrateira. Procuro-te, desalmado, em todos os recantos onde te projecto e me iludo. Corro até ti, mas nada mais és que uma miragem encantadora. Não és tu a ilusão, mas antes a ilusão ansiosa que criei de ti. Para quê elaborar-te em pensamentos se és real, se existes? Para quê fiar-me em cópias ridículas de ti e de tudo o que te pertence? Quero-te, sim, claro que sim, quero-te bem! Quero cuidar de ti, sempre que puder, dentro do espaço confinado das minhas possibilidades e permissões. Não te esqueço, nunca, nem mesmo durante as ausências cegas e os silêncios agudos que me queimam o coração em lume brando. Agora, nada mais do que tu. Só tu...

segunda-feira, agosto 04, 2014

Random #10

Há coisas que fazem sentido. E há as que não o fazem. Cá está, olhai só para o brilhantismo desta conclusão tautologicamente bem precipitada.

Aleatory #5

Ainda cá estou, como sempre nunca deixei de estar, no mesmo lugar, esse que ambos explorámos sozinhos. A que horas lá?