Guardo-te ainda, aonde não sei,
perdida em mim, algures,
de alguma forma fantástica
impassível de compreensão.
Guardo-te bem. Descansa,
que estás segura comigo.
Protejo-te todos os dias,
da amnésia do tempo
e da distância míope.
Ferozes, estes atacam-nos todos os dias,
esfomeados das recordações que não têm,
invejosos do amor que não podem sentir,
pois não são seres, nem sequer vivem,
apenas existem no vácuo sem sentido
da existência das coisas.
Mas eles roubam tudo, saqueiam corações,
mistérios, sonhos, desejos, projectos,
até beijos e olhares.
Todavia, feridas e dores também,
é o que nos vale.
Guardo-te, enfim, estupidamente alegre por ainda ter essa fracção de ti que outrora me ofereceste, essa partilha irreversível que não esqueço nem abdico e que todos os dias receio perder para o infinito frágil do esquecimento das coisas.