Os meus dedos irados escrevem, furiosos, ao ritmo de relâmpagos sentimentais e
pensamentos absurdos que estalam velozmente no fundo da minha cabeça. Tento trava‐los
mas, impotente, caio na frustração desesperada de, imobilizado, ficar a observa‐los,
enérgicos, confiantes e empenhados, como se uma boa‐nova tentassem transmitir ao
Mundo.
Já consciencializado com a inevitabilidade da situação, aproveito e esforço‐me por
entender a mensagem dos embaixadores da minha alma. Falam de sentimentos
cobardemente recalcados pelo tempo e por mim próprio que, agora, tendem a espreitar de
novo à tona de uma dura realidade cruel e fria.
Mas o que os fez de novo sonhar? O que os terá feito arriscar?
À medida que estes sentimentos sobem nos patamares da minha consciência,
apercebo‐me de uma modesta nostalgia, de uma saudade perdida no inconsciente confuso e
traumatizado, que rejuvenescem e, de certa forma, me incomodam exclamado, como se de
um quisto debaixo da pele se tratassem.
Porquê isto agora?
A esperança de algo ainda desconhecido, atravessa‐me a razão imunda, com
interrogações, com projécteis de conjecturas, com postulados primordiais que põem em
causa todos os meus actuais e falíveis princípios.
Apercebo‐me, então, de um calor que já há muito não sentia aquecer‐me; começo a
suar de vontade e iniciativa; transpiro alegria pelos poros da alma; sinto uma alvorada
cativante, iniciando o acontecer de uma nova vida, de um novo olhar para a realidade, de
um novo modo de sentir as coisas…
“Um olhar, uma silhueta vaga, um espírito encantador e enérgico…” – alego eu,
apontando um a um, os principais causadores desde meu despertar, que de uma imensidão
de causas possíveis, surgem especiais e inocentes. Surge também o desejo de me atirar para
o infinito mistério das coisas, de desvendar esses contornos esboçados de alguém que quero
conhecer.
E os dedos…esses continuam frenéticos a cantar…como se tudo o que disseram e
hão‐de dizer, seja sempre insuficiente para expressar os caprichos da minha alma…
Quero…assumo isso…