domingo, dezembro 21, 2014

Quote #24

"Escrever. Porque escrevo? Escrevo para criar um espaço habitável da minha necessidade, do que me oprime, do que é difícil e excessivo. Escrevo porque o encantamento e a maravilha são verdade e a sua sedução é mais forte do que eu. Escrevo porque o erro, a degradação e a injustiça não devem ter razão. Escrevo para tornar possível a realidade, os lugares, tempos que esperam que a minha escrita os desperte do seu modo confuso de serem. E para evocar e fixar o percurso que realizei, as terras, gentes e tudo o que vivi e que só na escrita eu posso reconhecer, por nela recuperarem a sua essencialidade, a sua verdade emotiva, que é a primeira e a última que nos liga ao mundo. Escrevo para tornar visível o mistério das coisas. Escrevo para ser. Escrevo sem razão."

(Vergílio Ferreira, in Pensar)

Quote #23

"Em tanto lugar eu poderia lembrar-te. Mas volto sempre ao começo da irradiação de ti. Há assim um pacto obscuro entre tudo o que foste até à morte e a eternidade da tua juventude. Porque é lá que tu moras, no incorruptível, no intocável do teu ser, na perfeição que um deus achou enfim perfeita quando te entregou à vida para existires por ti. Mas como seres jovem e eu conhecer-te, fora da cidade do Sol? da colina desdobrada à sua luz? do espaço de um acorde de guitarra a toda a volta no ar? É bom poder dizer-te quanto te lembro aí" 

(Vergílio Ferreira, in Cartas a Sandra)

sexta-feira, dezembro 12, 2014

Longe

Hoje sonhei contigo. Estavas ridícula. Que vergonha; ao ponto a que eu cheguei em ter de te sonhar para estar contigo. É deprimente sonhar-te, é estúpido. Ficas pindérica nos meus sonhos. Não é que não goste desta tua companhia enquanto durmo; mas ficas mesmo mal. Não te culpo, mas antes a mim. Eu é que não te consigo elaborar mais: a matéria de que são feitos os meus sonhos e pensamentos é que não aguenta a magnitude e qualidade da matéria de que és feita. Sempre que tento moldar essa matéria crua da minha imaginação à tua carinhosa e resistente recordação, acabo com uma figura tosca e pindérica de ti. Perdoa-me estas cópias vergonhosas. Perdoa-me a falta de jeito para estar longe de ti.


segunda-feira, novembro 17, 2014

Ora

Ora aí está ela, a verdade que se esqueceu de acontecer no entretanto entre o teu último beijo e os outros que nunca mais demos. Chama por mim para nos beijarmos de novo, enquanto temos tempo para o fazer.


quinta-feira, novembro 06, 2014

Voltar

Se porventura te passar pela vontade desesperada o desejo de voltares, lembra-te dos meus braços sempre abertos, tal como nunca se fecharam para ti.

sábado, outubro 25, 2014

domingo, outubro 12, 2014

terça-feira, outubro 07, 2014

Expressão

Espera, como se diz? ah, sim é isso, "gato escondido com rabo de fora"...pois, eu logo (não) vi.

quarta-feira, outubro 01, 2014

Pois podia

Podia ser tudo tão diferente. Não nos falta vontade, faltam-nos condições. Mãos à obra, criemos condições!

segunda-feira, setembro 22, 2014

Ciclo

Cá estamos de novo no ponto de partida; mais um passeio dado pela Terra (e portanto igualmente por nós) em torno do seu Sol mais-que-tudo. No entanto, apesar da aliteração planetária, tudo é tão diferente e ao mesmo tempo tão igual. Em mim nada mudou, nem nada sequer se chegou a perder. Como diria o famoso, tudo se transformou! Tudo se pode sempre transformar, digo eu, o leigo anónimo.

sexta-feira, setembro 19, 2014

quarta-feira, setembro 17, 2014

Quote #22

" I wish I wrote the way I thought;
Obsessively,
Incessantly,
With maddening hunger.
I’d write to the point of suffocation.
I’d write myself into nervous breakdowns,
Manuscripts spiralling out like tentacles into abysmal nothing
And I’d write about you
a lot more
than I should."

(Benedict Smith, in I Wish I Wrote The Way I Thought)

terça-feira, setembro 16, 2014

Pax Julia

Pois, isso mesmo; literalmente!
Estarei aqui, sempre, para ti, em paz.


(para um pequeno cultivar geral da cultura catita, aqui fica uma pequena nota histórica da origem do termo que intitula este desbastado pedaço de literatura parva: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pax_Julia)

domingo, setembro 14, 2014

Iniciativa

Força, sê o primeiro: não há problema em tomar a iniciativa. Enfrenta, mostra, seduz. Arrisca! No entanto, não sejas o primeiro demasiadas vezes.

sábado, setembro 13, 2014

Problema

O único problema no meio disto tudo é que eu gosto muito de ti. Não sei porque é que isto ainda não abalou de mim. Curioso: como é que gostar de alguém, querer-lhe bem e sentir-lhe a falta, pode ser um problema? 

Mas sabes, não tenho vergonha de assumir os meus sentimentos. Sei que são em vão mas admito-os com garra e determinação. Não os escondo, nem os faço passar por rancor ou raiva ou até ignoração. Eles existem e aqui estão, sossegadinhos.

É,
gosto mesmo de ti... 

sexta-feira, setembro 12, 2014

Prioridades

Sim, é isso! Tempo é o que mais há. Aliás, o tempo é tudo o que existe. Não existe falta de tempo, a ninguém o tempo lhe faz falta. O que há é prioridades. Ter tempo é sobretudo saber gerir as prioridades. Gerir o tempo implica a priorização de pessoas e coisas. Se alguma alguém, de uma forma genérica vos disser "Não tenho tempo para ti!", respondam-lhe assim, "Vai à merda!" e sorriam porque nesse momento, acreditem (eu percebo destas coisas!), se livrarão de alguém que não vale o vosso tempo nem a vossa atenção.

quinta-feira, setembro 11, 2014

Complementação

O antónimo de (uma pessoa) feia não é (uma pessoa) bonita, mas sim (uma pessoa) bondosa. Só há, logo, dois tipos bem distintos e complementares de pessoas neste Mundo imundo: as feias e as boas pessoas.

Coisas castiças

Há que ser, como hei-de dizer, robusto! Respirar fundo, vamos respirar fundo. Ah ah, que tanta piada têm aqueles que se julgam suficientemente importantes e se incluem por auto-recreação nos pensamentos e até nos textos dos outros. Podemos, e até devemos, aguentarmo-nos um pouco. Mas há limites para quase tudo, e esta situação não é excepção à quase universal regra que acabei de referir. Assim, tenho que vos expulsar donde vós não estais. Até que ponto isto faz sentido? Não pensando muito no assunto, assim por alto vá, faz um pouco de sentido. Ora, para vós que vos meteis onde não são chamados e para ti em particular, sim tu!, escusas de sair de onde não estás. Não te metas onde não podes entrar. Julga-te insuficiente e incapaz, pois é isso que tu és, inábil. O resto são lérias alheias que a ti te dizem tudo menos respeito.

Continua, a tua verdade é, pensas tu, a verdade absoluta que, sem te aperceberes, nem sequer existe; Continua em frente, vicia-te nessas tangentes atarantadas à curva fechada onde circulas sem fim; Continua, esse é o teu caminho, digo-te eu, para a perdição que almejas de forma cega e egoísta. Por mim, tudo porreiro, fica à vontade, dá-lhe com força!

segunda-feira, setembro 08, 2014

Moments #15

O que eu não daria, neste momento, por um beijo teu. E tu, o que não darias por um beijo meu; o que (não!) darias, afinal, por um beijo nosso? Mordisca-me a coragem bruta e tenta-me como dantes. Pergunta-me se sinto a ausência dos teus lábios ou do calor dos teus braços. Pergunta-me também se continuo a ser teu, decerto não te irás surpreender.

domingo, setembro 07, 2014

Moments #14

Sempre que te penso volto a apaixonar-me vezes sem conta; e inúmeras (Umas cem? Cem é tão grande para mim!) são as vezes que penso em ti. É neste turbilhão recursivo que vivo sobrevivendo na paixão que à toa semeaste em mim,; agora, esta cresce sozinha de forma descontrolada e daninha; é deixa-la...

quinta-feira, setembro 04, 2014

Particularidades

Ninguém ama no geral, nem mais ou menos, nem pouco, nem tampouco muito.

Quanto se ama, ama-se e pronto, nem bem nem mal, faz-se, deixa-se acontecer o amor, o resto são tretas. E quando amamos como se deve amar, fazemo-lo sempre no particular, nos detalhes, nas peculiaridades, nas idiossincrasias, nos pormenores, nos preciosismos e na minúcia. O amor revela-se na forma de comer, de sentar, na presença, no estar; na forma como se apertam os sapatos ou na perna que se mete primeiro quando veste um par de calças; na forma como se agradece ou como se cumprimenta. Na hesitação e na iniciativa; No corar e na coragem. Quando amamos, amamos os gestos, a voz, o cheiro, as reacções, os risos, os maneirismos, no andar, no saltar, no dormir...de tantas coisas mais que a páginas tantas nem sabemos porque que amamos, fazendo-o porém de forma intensa e entusiasmada. Mas sabemos, isso sim, que amamos de forma específica e que é aquela pessoa em particular que nos faz vibrar, que nos transmite energia e nos dá paz. 

Se houver dúvidas, se existirem incertezas e medos, é porque não amamos como deve de ser. Amar é segurança e harmonia. Amar é, acima de tudo, ter certezas. Tudo o resto são lérias. Mas só sabe disto tudo quem ama. Para quem não sabe, porque nunca amou, amanhem-se com a solidão sentimental.

Em suma: é em todas estas pequenas coisinhas do dia-a-dia que o amor se revela. É isto que nós amamos e não a generalidade das coisas que envolvem as pessoas. Ninguém ama de forma genérica, isso não existe. Ama-se de for específica e eu, particularmente, amo-te a ti.

quarta-feira, setembro 03, 2014

Moments #13

Enquanto não adormeço, penso em ti e viajo. Queres vir, isto é, vens? Não espero por ti; vou andando nas calmas. Tu apanhas-me, basta quereres...

terça-feira, setembro 02, 2014

Flor

Toma, é para ti
esta flor que roubei,
ali ao cabo, no jardim,
onde existem muitas mais,
outras tantas quase iguais,
que por uma a menos,
não chega o fim.
Mas essa que eu tirei,
é diferente das demais,
porque é para ti.

E é tua, assim,
essa flor que te ofereci.
Essa que nunca foi minha,
nem mesmo quando a colhi.


domingo, agosto 31, 2014

Guardar

Guardo-te ainda, aonde não sei,
perdida em mim, algures,
de alguma forma fantástica
impassível de compreensão.

Guardo-te bem. Descansa,
que estás segura comigo.
Protejo-te todos os dias,
da amnésia do tempo
e da distância míope.
Ferozes, estes atacam-nos todos os dias,
esfomeados das recordações que não têm, 
invejosos do amor que não podem sentir,
pois não são seres, nem sequer vivem,
apenas existem no vácuo sem sentido
da existência das coisas.

Mas eles roubam tudo, saqueiam corações,
mistérios, sonhos, desejos, projectos,
até beijos e olhares.
Todavia, feridas e dores também,
é o que nos vale.

Guardo-te, enfim, estupidamente alegre por ainda ter essa fracção de ti que outrora me ofereceste, essa partilha irreversível que não esqueço nem abdico e que todos os dias receio perder para o infinito frágil do esquecimento das coisas.

Moments #12

Preciso de te ver. Mais, preciso de te sentir. Diz-me onde e irei ter contigo num piscar de olhos que quase nem se vê. Onde estás? Diz-me onde estás, pois sei que ainda me lês. Dá-me um sinal, uma palavra, qualquer coisa que se veja, ou se sinta; dá-me qualquer coisa para que eu possa perceber que ainda não nos sentimos mutuamente indiferentes. E depois logo se verá, é incrivelmente simples; faças o que fizeres, dá-me um princípio por onde começar.

sexta-feira, agosto 22, 2014

Quote #21

" Esperar que voltes é tão inútil como o
sorriso escancarado dos mortos na necrologia dos jornais

e no entanto de cada vez que
a noite se rasga em barulhos e
um telefone se debruça de
uma qualquer janela

sinto que ainda ficou uma
palavra minha esquecida na
tua boca e que
vais voltar para a devolver "

(Alice Vieira)

domingo, agosto 17, 2014

Conversas

Sentado envolto de escuridão natural, distraio-me olhando para o céu distante e meto conversa com o Universo. Ele, entusiasmadíssimo, começa a contar-me da sua imensidão, da origem do tempo e do espaço, das galáxias que o povoam, da energia cósmica que o faz andar, dos planetas que lhe dão textura, das estrelas que o adornam, dos cometas que o divertem, ui! De tanta coisa mais, que nem imaginas. Quando chegou a minha vez no diálogo entre o mortal e existência física absoluta, falei-lhe de ti e ele sentiu-se pequeno e humilde. Tão humildemente pequeno como tão encantado que pediu que lhe falasse mais de ti. Aceitei, mas expliquei-lhe que não o conseguiria fazer numa só noite; que precisava de muitas noites e talvez nem essas bastassem - Talvez tantas quantas as estrelas de que tanto te orgulhas - disse-lhe. Confuso perguntou-me por que razão assim era. Respondi-lhe - Eu não sou infinito como tu!

quinta-feira, agosto 14, 2014

Moments #11

Pronto, lá está ela, é disto que falo. Volta meia volta, esta presença envergonhada espreita pelas cortinas da curiosidade compulsiva...


terça-feira, agosto 12, 2014

Mudança

Descobri uma maneira de alterar o passado. Não de viajar até ele, mas de o modificar, assim, digamos, à distância de uma vontade subtil. Ora vamos lá. Lembraste do último abraço que demos? Exacto, esse mesmo. Foi o último, ou melhor, é o último, já que continua a sê-lo! Todavia, pode deixar de ser o último e passar, por exemplo, para o lugar de penúltimo, basta quereres. Desta forma conseguimos, até certo ponto, alterar o passado que tantas vezes é deliberadamente tomado como fixo e imutável: Não!

Vês como juntos conseguimos alterar o forma como vemos o passado alterando consequentemente o próprio passado? Basta queremos. Eu quero, e tu?

sábado, agosto 09, 2014

Random #11

Queres estar?
Estejamos, já, a correr.
Queres ver?
Vejamos, como loucos.
Queres falar?
Falemos, como dantes.
Queres ler-me?
Bem, essa é fácil,
tu les-me.

Queres o quê?
Que verbo queres conjugar?
Conjuguemo-lo, com vontade.

Queres viver?
Sejamo-nos finalmente.


quinta-feira, agosto 07, 2014

Moments #10

- E agora, o que fazemos?
- Deixamo-nos estar à espera que o destino se concretize sobre nós. Quer queiramos, quer não, se não tiver escrito nas estrelas, nós jamais existiremos. É mandatório que esteja escrito nas estrelas.
- E o livre-arbítrio, não acreditas nele? Achas que o destino de cada um nós é-nos talhado à nascença, ou melhor, no momento da concepção?
- O livre-arbítrio existe na mesma; nós só temos acesso à sua concretização particular que ocorre em cada um dos sucessivos instantes que nos vão acontecendo. Esses instantes vividos, pertencem todos ao presente, porque só o presente existe; tudo o resto são memórias e especulações, recordações e desejos.
- Não entendo então!
- Alguém entende?

terça-feira, agosto 05, 2014

Moments #9

Se encontrar-te nesta efémera eternidade é olhar-te à suave distância de uma recordação longínqua, desejo reencontra-te de novo; mas que seja como da primeira vez, com aquela novidade infantil que é inata à novidade sorrateira. Procuro-te, desalmado, em todos os recantos onde te projecto e me iludo. Corro até ti, mas nada mais és que uma miragem encantadora. Não és tu a ilusão, mas antes a ilusão ansiosa que criei de ti. Para quê elaborar-te em pensamentos se és real, se existes? Para quê fiar-me em cópias ridículas de ti e de tudo o que te pertence? Quero-te, sim, claro que sim, quero-te bem! Quero cuidar de ti, sempre que puder, dentro do espaço confinado das minhas possibilidades e permissões. Não te esqueço, nunca, nem mesmo durante as ausências cegas e os silêncios agudos que me queimam o coração em lume brando. Agora, nada mais do que tu. Só tu...

segunda-feira, agosto 04, 2014

Random #10

Há coisas que fazem sentido. E há as que não o fazem. Cá está, olhai só para o brilhantismo desta conclusão tautologicamente bem precipitada.

quinta-feira, julho 31, 2014

Random #9

Até quando te sentirei
ao virar das esquinas
dos quarteirões
das memórias
por onde me perco
dias a fio?

Até quando hesitarei
diante dos ambíguos cruzamentos
de opções recursivas,
sem regra geral
que me guie numa
concreta decisão
que me valha
um sentido,
uma direcção,
um fim?

Até quando, onde,
diz-me tu.

segunda-feira, julho 28, 2014

Noite

Por vezes, ao deitar,
penso como seria ter a tua companhia.
Como seria, por exemplo,
dar-te um beijo de boa noite,
e adormecer ao teu lado?
E depois, na continuação imparável do tempo,
já no outro dia, de manhã,
acordar para ti e ver-te
ainda a sonhar?

A que saberá tudo isso?

Sobra-me somente
o aroma subtil da tua pele,
em jeito de amostra degustada
que não satisfaz.
Nada agora me é permitido
Já o foi, sem dúvida,
mas por breves instantes
que se esqueceram de acontecer
e que poucas satisfações
dão à memória cansada e envelhecida.

Não obstante,
beijo-te à revelia com estas palavras.
As mesmas que sempre te ofereci
(e ofereço!),
embrulhadas com carinho
e laços de saudade,
que nem o tempo,
nem o espaço,
nem ninguém 
(nem nada!) 
será capaz de adormecer.

Porque só tu sabes (e eu!),
em mútuo segredo arranjado,
que estes beijos e estas palavras 
serão só e sempre para ti:

boa noite.

domingo, julho 27, 2014

Quote #20

" Sempre amei por palavras muito mais
do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero."

(Alice Vieira)

segunda-feira, julho 21, 2014

Arco-íris

E porque não,
voltar atrás no tempo,
(que cliché...)
para nos trazermos,
tal como éramos,
tal como fomos,
de volta,
ao presente absoluto?

Quero-te de novo,
como nunca tive,
como jamais te terei.
Enfim,
quero esse passado
transladado para o instante do agora
e ressuscitado pela esperança divina
de ainda me quereres um bocadinho.
Apenas um naquinho de quase nada bastava
para correr até ti num veloz piscar de olhos.

Para ti corro sempre,
como um tonto
(tal como me apelidavas de forma justa mas carinhosa)
que corre atrás de um arco-íris de amor
na ilusão sem pés nem cabeça de o conseguir roubar
só para mim.


domingo, julho 20, 2014

Random #8

Ora essa, porque não? Bora lá, vamos em frente, saltemos para os mistérios embrulhados em espuma de fantasia engraçada, mas sorrateira. Calminha! Tão calminha que ela é, a fantasia. A fantasia e tu. Mas tu és maravilhosa, muito mais do que fantástica, muito mais do que real. Mas ambas não se querem mostrar, as marotas. Devem pensar que ainda tenho idade para andar a jogar às escondidas. No entanto, penso e apercebo-me: não é que tenho mesmo idade para tal coisa? Não há idade para se jogar ao esconde-esconde e ao surge-surge. Um, dois, três, é a minha vez de contar. Cheguei o número combinado. Pronta ou não, aqui vou eu. 

Aguentas-te, ou não?

Random #7

Quero abraçar-te, só isso, mais nada, meramente abraçar-te. Não precisamos de falar. Um simples abraço, com o qual eu te sinta mecanicamente, sensorialmente, suavemente perto de mim. 

Queres?

quinta-feira, julho 17, 2014

Volta

- Quantos queres? Sim, desejos, quantos queres?
- Eu não quero mais desejos, já tenho o que me é suficiente. Quero voltar. Mas tens que me vir buscar. Não sei o caminho de volta a ti. Busca-me onde me deixaste, ainda cá estou. Até lá, volta e meia, penso-te eternamente...

sábado, julho 12, 2014

Quote #19

" Atticus: How do you do it Hank? 
Hank: Do what? 
Atticus: The woman that you love is out there and you know you can't have her. How do you even get up in the morning? 
Hank: Well the booze is always helpful and so is the art. Everything that I write is either for her or about her. So I'm with her, even when I'm not, in my writing." 

 in Californication, Season 6, Episode 12

terça-feira, julho 01, 2014

Sardas

Até podia mentir-te, pois podia. Era numa boa que te mentia. Mas para quê? Para que estupidez derradeira? Cansa-me mais mentir-te do que confessar-te. Tenho saudades das tuas sardas; nem com uma fiquei para recordação, nem daquelas mais clarinhas que quase não se notam. E pronto, era isto! Assumo, de peito aberto cheio de orgulho, que sou um preguiçoso terrível. Fazeis-me falta, tu e as tuas sardas.


quinta-feira, junho 26, 2014

Certo

Existem sobretudo dois tipos de pessoas: as de um certo tipo e as de um determinado tipo. As do tipo certo, destacam-se pelas suas particularidades magnificas que pouco interessam de momento; as do tipo determinado detém de uma especificidade aterradora que igualmente não é para aqui chamada agora. No entanto, e como já dei a entender, não é destas que hoje aqui vou falar. Tratam-se de dois tipos não complementares, sendo a sua intersecção diferente do vazio. Neste ponto comum a ambos, existem, sozinhas porém, as pessoas de um outro tipo: as ditas certas e determinadas pessoas. De todas, são as piores (o que é ser mau afinal?) mas as mais fáceis de identificar no seio de anónimas multidões, em redes de contactos, de conhecidos, de amigos e até em meios familiares. Estas, na sua generalidade, são alvos de inúmeros qualificações pejorativas, de boatos infundados, de apontamentos digitais e de mais eu sei lá. Até bodes expiatórios chegam a ser. Deste que sejam ruins qualidades ou do tipo duvidoso, estas pessoas tê-las-ão de certeza, de uma ou de outra forma. Há, assim, de facto, certas e determinadas pessoas com certas e determinadas características que as tornam certa e determinadamente únicas. Tão únicas e específicas que quando falamos delas nem precisamos de as referenciar pelo nome: à partida, o nosso interlocutor, seja ele um sujeito individual ou colectivo, perceberá com relativa astúcia de quem estamos a falar. Se, em cima disto tudo, adicionarmos um tom irónico e sarcástico ao falatório, tudo parecerá bem mais claro do que naturalmente já é. Posto isto, é castiço notar que a natureza intrínseca deste certo e determinado tipo de pessoas é, em si mesma, auto-suficiente quer do ponto de vista da referência quer do da qualificação. Por um lado, a generalidade da abstracção, que é qualidade da definição deste tipo de sujeitos, induz um carácter subtil e subliminar ao objecto definido, impossibilitando a total e correcta identificação deste último. Por outro lado, conhecendo muito bem o contexto da conversa é possível inferir, sempre acompanhado com um grau de incerteza evidentemente, de que certas e determinadas pessoas estamos ou está o nosso interlocutor a falar. A precisão da inferência dependerá, claro está, da habilidade de dizermos o dito pelo não dito, sem termos dito nada afinal e na capacidade de bom entendedor do nosso ouvinte e do seu à-vontade com o contexto da tagarelice. Em último caso, se por ventura a inferência não for de todo possível, pois podemos, por exemplo, não conhecer essas pessoas de quem se (mal?) fala, surgirá um mecanismo de transferência por indução que particularizará esses sujeitos abstractos em sujeitos que conhecemos bem. Dito de outra forma, se alguém nos falar de certas e determinadas pessoas que, em boa verdade, não conhecemos, o que acontecerá é que nós próprios iremos pensar, em segredo, em certas e determinadas pessoas que, agora sim, conhecemos bem e que encaixam no perfil infame de que nos fala o nosso interlocutor. Em suma: este texto é para vós, certas e determinadas pessoas. A carapuça serviu a alguém?  (começo a tornar-me repetitivo). Eu cá já tenho a minha e que bem que ela me fica...

quinta-feira, junho 19, 2014

Conversa fiada

Se, por um lado, o desenvolvimento de conversa pode ser enganador, o seu oposto, isto é, o não desenvolvimento de conversa, que é como quem diz, a tendência para o silêncio e, em casos extremos, para ignoração, é, sem qualquer sombra de dúvida, a revelação quase absoluta do desinteresse alheio. Digo 'quase' por uma questão de prudência, certo de que pouco sei sobre estas matérias. Sinto-o apenas das experiências subjectivas que se vão realizando entre mim e o mundo sombrio do comportamento humano e, em particular, do género feminino. Género este que certamente se equivale ao seu incongénere, mas que de mim merece, por óbvias razões, especial atenção. Assim, e desta forma, partilho esta visão consciente cujo viés opinativo se radicaliza meramente no género que me foi talhado pelo destino. Outras visões haverão e adianto que de mim apenas terão todo o merecido respeito.

Rematando as pontas soltas provocadas pela embriaguez de juízo, declaro, aqui e agora e, com algum grau de confiança, para o futuro, a minha aversão a conversa fiada. Portanto, trelas apalavras não combinam comigo. Ou se conversa com pés, tronco e cabeça, ou então, se é para andar a apanhar cacos de pequenas carências escondidas, a tapar fendas de atenções não atribuídas e a equilibrar défices de carinho mimoso, obrigadinho, mas passo...

sexta-feira, junho 06, 2014

Moments #8

Deixei-te viver assim, longe de mim. Morri para te dar vida, aquela que querias. E depois? Nada. Depois nada! Absolutamente nada! Note-se que morri, sim, mas para ti; eu cá continuo vivinho da silva...


segunda-feira, junho 02, 2014

Correr

Se pudesse, juro-te, corria até ti. De certa forma ainda corro, à minha maneira, daquela maneira em que se está parado e se espera que as coisas corram até nós. Porque o movimento é algo tão relativo como o amor e o tempo que os separa, a acção de correr até algo pode também ser vista como a acção desse algo a correr até nós. E é isso que faço sempre que te desejo um pouco mais do que o normal: relativizo todas as minhas corridas cujo destino culmina em ti.

domingo, junho 01, 2014

Soluço

Olha, olha! Ah não, esquece, não foi nada, apenas impressão minha. Pensei que senti, mas foi um soluço de sentimento que me contraiu o diafragma e, assim, me agitou o coração entusiasmado de susto. Acalmei agora, desculpa ter alertado a tua atenção de forma inadvertida.

quarta-feira, maio 28, 2014

Moments #7

Ainda te amo ou será mero hábito teimoso isto que sinto? Um pouco de ambos, quiçá; tudo de cada um, porventura...

terça-feira, maio 27, 2014

Random #6

Deixem-me que vos conte uma estória. Era uma vez uma estória, essa tal estória que vos quero contar, que se esqueceu de acontecer e um conto que deixou de saber contar. A certa altura, ambos encontram-se e vira-se a estória curiosa - Oh conto, o que contas? - e ele responde - Perdi-me nas contas, embrulhei-me com as operações e agora pouco tenho a contar. E tu, que é feito de ti? - De mim nada é feito, já não há esperança para mim, esqueci-me de me acontecer, imagina lá tu! - E assim se passou uma tarde extravagante entre uma estória amnésica e um conto com um debilitado cálculo mental.

segunda-feira, maio 26, 2014

Quote #18

"...my goodness don't you remember when you went first to school. You went to kindergarten and in the kindergarten the idea was to push along so that you could get to the first grade, and then push along so that you could get to second grade, third grade, so on going up and up then you went to hight school and this was a great transition in life and now the pressure has been put on, you must get ahead, you must go up the grade and finally be good enough to go to college. And then when you get to college you still going step by step, step by step, up to the great moment when you are ready to go out to the world. And when you get out into this famous world, comes the struggle for success in profession or business. And again there seems to be a ladder before you, something for each you're reaching all the time. And then, suddenly, when you are about 40 or 45 years old, in the middle of life, you wake up one day and say "Huh? I've arrived". And by Joe I feel pretty much the same as I always felt. In fact I'm not so sure that I don't feel a little bit cheated. Because, you see, you were fooled. You're always living for somewhere where you weren't. And while, as I said it is of tremendous use for us to be able to look ahead in this way and to plan, there is no use planning for a future, which when you get to it and it becomes a present you won't be there, you will be in some other future which hadn't yet arrived. And so, in this way, one is never able actually to inherit and enjoy the fruits of ones actions. You can't live at all unless you can live fully now..."


sábado, maio 24, 2014

Moments #6

Lembraste quando na estação de comboios esperávamos por um que me levasse e, de mãos dadas, apertávamos com esmagadora força a incerteza que o futuro para nós guardava? Lembraste de eu te olhar e te dizer que não te queria perder? Lembraste de me olhares e me dizeres que não me querias perder? Por que razão partilhámos este querer tão inofensivo e ao mesmo tempo tão terrivelmente assustador? Por que razão demos as mãos? Eu parti, nessa carruagem que acabou por me levar e que nunca mais me trouxe de volta a ti. O mais curioso é que foste tu própria que me levaste até ao infortúnio apeadeiro e nele me fizeste companhia até ao derradeiro adeus. Estivemos juntos até à última, até onde e quando pudemos estar.

Obrigado.

sexta-feira, maio 23, 2014

Moments #5

Digo-te aqui e agora, sem tretas, sem rodeios, sem merdas nenhumas: faltas-me, fazes-me falta, sinto a tua falta...tenho saudades tuas, bolas! E porquê? Porque te gosto, te adoro, te amo, te quero; te, é sempre te, sempre "te qualquer coisa"...

quarta-feira, maio 21, 2014

Random #5

- Como posso saber se alguém, particularmente em específico, me ama e pensa em mim? Ou se, no mínimo, gosta de mim, se preocupa comigo?
- Simples, esperar é a solução. Quem ama procura, quem não ama, não procura. Com isto não digo que fiques parado feito parvo à espera que algo brote do imprevisto. Quero com isto dizer que deves fazer a tua parte, tomar a iniciativa e procurar; mostra intenção, interesse. Mostra só, não te dês, não te vendas, não compres nem exijas.
- Amar equivale, então, a procurar!?
- Certo, chegaste lá.
- Resta-me, porém, uma dúvida: isso do esperar...esperar até quando?
- De igual e simples modo se obtém uma solução para essa questão. Diz-me, ainda continuas à espera?
- Sim continuo! E então?
- Aí tens a tua resposta...

segunda-feira, maio 12, 2014

Moments #2

Bem ou mal, muito ou pouco, ainda penso em ti...Recordo o princípio e o fim, subtraio o último ao primeiro e obtenho um balanço positivo. Tudo é caminho. Tu foste o meu caminho de outrora...contigo caminhei, a teu lado e, assim, avancei e conheci-me. Evoluí, aprendi contigo; aprendi sobretudo que é impossível mudar alguém, por mais que nos esforcemos, por mais que esperemos, por mais que amemos, com toda a força e genuinidade que existe em nós, há pessoas que simplesmente não nos amam de volta e nem sequer se preocupam ou nos respeitam. Não é esta uma realização absurdamente  simples?! Não é, claro, o fim do mundo, não, não é mesmo, de todo! Ninguém morre de amor, essa doença não existe. Mas dói e custa. Custa os olhos da cara de tanto chorar, custa a memória insistente que teima em recorda-se a si própria, custa  a ausência de um abraço; não de qualquer abraço, mas do teu abraço, do teu beijo. Custa a falta do teu amor que, em boa verdade, nunca existiu. É em momentos como este, sob o qual escrevo este pequeno desabafo, que dá vontade de voltar a trás; mesmo que tudo se voltasse a repetir tim-tim por tim-tim, mesmo que me rejeitasses de novo e me abandonasses à tua eterna espera, valeria a pena ter-te de novo nos meus braços e o sabor dos teus lábios no canto da minha boca, tal como me foram permitidos em momentos de então! E agora, agora não me apetece escrever mais; o que te dei é teu, o resto fica para mim, deixa-me apenas sentir...


quarta-feira, maio 07, 2014

Random #4

Quantos queres? Sonhos, quantos queres? Vá, diz lá, quantos vão ser desta vez? Atreve-te, manda um número ao ar e deixa-o voar até às estrelas que nunca estão próximas. Não queres dizer? Ah, um de cada vez, é isso? Parece-me bem. Pode ser, é bom, é sensato, é castiço. Mas por que sonho havemos de começar? hã? Não ouvi bem, desculpa, podes repetir? Pelo primeiro? Pois, pelo primeiro terá sempre que ser, ou haverá outra possibilidade que neste momento não consigo alcançar de forma inteligível? Vamos lá então. Mas espera, qual é mesmo o primeiro sonho que havíamos combinado? Ah! sim, esse mesmo...toca lá a acordar então!

terça-feira, maio 06, 2014

Random #3

- Como é que consegues? Como é que consegues ainda escrever, sabendo que ela anda ao deus-dará nos braços de outrem?
- Não há nada que eu possa fazer para contrariar a realidade. Nem tão pouco me quero iludir com uma alternativa. Tudo o que escrevo, já o sabes, ou é sobre ela, ou é para ela. Assim, ela está sempre comigo, na minha escrita, à espreita em cada canto de cada parágrafo travado. Foi esta a forma que eu encontrei para a viver todos os dias em que ela me faz falta. Em todos esses dias, acredita, abro-me ao mundo e distribuo palavras que torneiam o seu corpo que ainda tenho em memória. Replico momentos, projecto outros tantos num futuro sintético que ao passado pertence. Volto a sentir e a chorar, rio-me de novo, gargalho também, agora sozinho, porém. Assim abraço, com força, a sua terrível e maciça ausência que me esmaga até à unidimensionalidade irreversível. E com as palavras a encontro e reconheço. Nestas palavras eu a eternizo e a idolatro à distância, a mesma que separa os deuses dos meros mortais onde me incluo. Ao escrever-lhe vivo de novo para ela. Ao escreve-la, ela vive de novo dentro de mim...

sexta-feira, abril 25, 2014

Random #2

Às vezes ainda penso:
O que é feito de ti,
Como tens andado?
Quantos sorrisos,
Quantas lágrimas lacrimejado?
Quantos despertares sem mim,
Quantos deitares e noites escuras?
Quanto disto tudo
Tem passado
E eu perdido,
E ignorado.
Quantos instantes não vividos,
Quantas partilhas
Em palavras soletradas?
Quantos verbos conjugados à pressa
E gargalhadas descontroladas?

Mas quanto?
Quanto de tudo isto
Tu já não viveste sem mim?

quarta-feira, abril 23, 2014

Moments #1

E aqueles momentos quando alguém, com um entusiasmo do tamanho do Mundo, nos conta uma novidade ou uma anedota, por nós já conhecidas e, com alguma piedade, forçamos aquele ar de espantado ou aquela gargalhada teatralmente fabricada, de modo a  não estragar todo aquele êxtase excitado da proclamação da boa-nova?

hum?

Amo,
ou desejo?
Vejo,
ou imagino?
Toco,
ou invento?
Faço,
ou recordo?
Penso,
ou arrependo?

Não consigo
ou não quero?


domingo, abril 20, 2014

Contraditório

Há os que amam,
E os que acompanham.
Os que querem,
E os que desejam.
Há também os que procuram,
E os que encontram sem querer.
Há-os estúpidos,
E os que não querem aprender.
Há-os sozinhos,
E os sem ninguém.
Os que fogem, 
E os enfrentam,
Os que rimam,
E os de livre rima.
Os que sentem 
E os que fingem.

Há-os das promessas,
E os das acções.
Os da paz, 
E os da guerra
Os das pás,
E os mandriões.

Há de tudo.
E de tanto haver,
Até há os que não hão
Nem podem sequer querer.
E há os que não são,
Nem nunca o hão-de ser...

sexta-feira, abril 11, 2014

Quote #17

" Guardarás numa caixinha
o que não fiz por ti,
a mão que não chegou à sobrancelha
que nem aflorou,
o beijo repetido nas palavras
sem que o tacto
o multiplicasse qual se desejava.
Nessa caixa de nada não tardará depois
a não estares só tu,
a não estar só eu,
a estarmos só os dois. "

(Pedro Tamen)

terça-feira, abril 01, 2014

Coimbra, respeito, saudade...

De repente, num espasmo de consciência para a realidade finita, dou conta da tua presença em mim, inesperada, surpreendente, feita de sonhos e de rápidas imagens e de estrelas de enumerada beleza. Noto que esse vulto recortado de pensamentos não são de agora, ui não, não! Eles já me fitam, sem que eu desse por isso, há muito mais tempo! Espera, deixa-me voltar a trás...é isso! Coimbra, esse lugar mágico que nos juntou. Lembras-te? Não chegou a ser tempo esse instante em que me apercebi de ti. Mas foi essa brevidade o início deste meu lento despertar para a inevitabilidade dos sentimentos e da partilha, do respeito, da confiança, para ti. Acordei para ti enfim. Esfrego os olhos matinais com a força de uma alvorada fresca; quero garantir-me que não sonho e que esse mundo que tenho à frente, tu, é, efectivamente, real. Não um real dogmático mas um real para mim. É essa realidade que me interessa: a subjectividade de tudo que, terei de confessar, ainda é muito pouco porém, que és para mim; é a este universo em perspectiva a que me refiro, onde a profundidade do campo é a vida projectada em ti, o seu ponto focal. 

E no final da novidade recém-nascida e da alegoria da consciência íntima e profunda, tudo se combina em saudade, não do que passou, não de uma nostalgia arrumada, mas de um futuro caótico que terei que organizar, para nele não correr o risco de me perder...

segunda-feira, março 31, 2014

Random #1

A-M-O-T-E, a-mo-te, am-o-te, amot-e.
Enfim,
amo-te de qualquer forma e feitio,
com todas as sílabas e outras
combinações de hífenes
entre as letras desse tempo verbal
do singular pessoal, do íntimo,
do verbo amar.
Et-oma de trás para a frente,
e até de forma estranha.
Entranha, carrega a fundo
na paixão, na aventura
da escuridão do desconhecido
do mistério da esperança.
M-taoe de forma aleatória.
Ao calhas, desordenadamente,
sem pés, mas com cabeça
no ar, nas nuvens,
sem gravidade!
Nas calmas,
sim, amo-te nas calma,
numa boa.
Estou relaxado,
temos tempo.
E agora chove,
não chores, sorri,
chora de alegria.
Dá-lhe com força, no chorar alegre,
que só tu sabes dar e só tu
o fazes com delicada destreza.
Olha que giro:
A
m
o
|
t
e
na vertical até!
Deixa-me olhar-te agora:
És-me linda.
Não,
deixemo-nos de brincadeiras,
de exageros inúteis,
fúteis, voláteis,
pouco plausíveis!
Agora a sério,
arrisco,
enfrento,
encaro.
Ouso o seguinte dizer-te:
Gosto de ti.

Atreves-te?
Eu sim...



sexta-feira, março 28, 2014

Almofada

E quanto tapavas a vergonha do rosto com uma almofada quando eu te dizia que eras linda, lembras-te? Eu lembro! Ficavas uma ternura quando coravas; uma delícia de carinho embrulhado em lençóis com suaves tons de rosa. Voltava a elogiar-te enumeras vezes só para te ver abraçar a almofada ainda com mais força. Às vezes era um peluche qualquer; lembro-me de uma vaquinha simpática que tinhas perdida pela cabeceira da cama. De vez em quando, lá vinha o bovino de tecido fazer tempo de antena diante da câmara do computador. Sempre adorei esse teu lado infantil. Ficavas constrangida e sem jeito. Eras magnífica sem jeito algum! Foi por essa simplicidade inicial que me apaixonei quem nem um parvo entusiasmado. É essa tua candura que ainda guardo numa caixinha de recordação quente. Não está escondida, nem sequer a uma chave trancada. Tem somente à volta um cordão de saudade e sem nó complicado, não vá o seu conteúdo perder-se por infortuna razão. É apenas o que é: uma ponte para um passado feliz que não me arrependo de ter partilhado contigo; não tenho vergonha, não preciso de almofada para me esconder sempre que a ele regresso...


quarta-feira, março 26, 2014

Quote #16

" (...) talvez um dia quem sabe o destino
volte a ter novos contornos e nos olhe de frente
e ainda sobre tempo para reaprender a soletrar correctamente
todas as palavras que admitiam ter nascido
do teu corpo da tua voz do sabor da tua boca
tempo para povoar de novos sons os velhos discos de vinil
e sonhar com mundos à espera de serem salvos
pelas nossas palavras

tempo para nos olharmos e encontrarmos
sem remorsos
a maneira de nos perdermos de novo nos caminhos
que levam ao coração absoluto da terra

talvez um dia quem sabe eu volte
a faltar às aulas para esperar por ti. "

(Alice Vieira)

terça-feira, março 25, 2014

Dúvidas

Perguntei-me por ti, mas não te encontrei. Perdi-te algures dentro do corpo que partilhei contigo, esse mesmo que foi teu também durante o silêncio de dois olhares apaixonados. Dois? Ou apenas o meu? Fica a dúvida, também ela perdida no mistério desse algo subtil que nos uniu por breves instantes. Sim, breves, mas intensos, pequenas detonações de amor virgem, inexperiente, novato e pouco consciente da força da ilusão que imita a realidade quase na perfeição sorrateira. Estiveste realmente comigo nesses momentos de partilha em que me ofereci de olhos fechados? Fica a dúvida para posterior reflexão!

Não resta dúvida, porém, naquilo que te digo agora: amei-te com os sentimentos senis do louco em que, num ápice, me transformei quando te conheci; E tu? Tu amaste-me somente com o teu olhar cônscio e de literal modo, num piscar olhos, deixaste escapar o prematuro sentimento que juntos semeámos à pressa, adubado com beijos de sonhos, nesses tais momentos de volátil ternura.

E agora, que mais?

Fica a dúvida de um futuro imperfeito que deambula no pretérito condicional às palavras que segredámos um ao outro. Mas do que valem as palavras se não sucedidas por acções que lhe façam jus? De que valem as promessas incumpridas, abandonadas ao Deus-dará?

Estas são, assim, as minhas questões, as minhas dúvidas, eu sei lá...



sábado, março 22, 2014

Abraço

Quando me voltares a ver,
Não te esqueças de me abraçar.
Quando me voltares a abraçar,
Não te esqueças de me dizer
Ao ouvido, baixinho,
Em jeito de segredinho,
Que estás feliz e contente,
Por nos teus braços,
Me voltares a ter.
E não te esqueças do seguinte:
Nos braços de alguém,
Não é comum eu me encontrar,
Por isso aproveita bem
Quando não me podes ter,
Mas tens!

sexta-feira, março 21, 2014

Lugar

Se ainda quiseres, vem também,
onde estou, para onde irei,
conheces o local, conheces o projecto,
as promessas e os desejos
enrolados debaixo das línguas,
como palavras que não se dizem,
mas que se beijam
e se soletram, lentamente,
com os lábios
húmidos de teimosia.

Partilhámos a mesma visão, 
Já construímos parte do caminho
que agora percorro, sozinho...

Ainda há espaço para ti:
Não te guardo o lugar,
Ele é teu,
Ele és tu,
A eterna ausência de ti...

quinta-feira, março 20, 2014

Quote #15

" A lembrança dos teus beijos
 Inda na minh’alma existe,
 Como um perfume perdido,
 Nas folhas dum livro triste.

 Perfume tão esquisito
 E de tal suavidade,
 Que mesmo desaparecido
 Revive numa saudade! "

 (Florbela Espanca)

quarta-feira, março 19, 2014

Balanço

Se amas,
porque te afastas?
Quererás tu a apanhar balanço,
para te atirares em forma de abraço cego?

Afasta-te então,
e atira-te a mim por fim!


Esperar

O que se espera,
quando não há nada
por que esperar?

Onde fica a esperança,
perante a ausência
do objecto esperado?

Fica à espera!
Porque até a esperança
espera que o nada se
torne em coisa alguma:

A ausência em presença,
A saudade num abraço,
Um desejo num beijo
Um sonho numa vida,
Um pensamento em palavras ditas,
e outras tantas escutadas.
Uma imagem num olhar a dois,
intenso, despreocupado, íntimo!
Uma memória numa troca
volátil de perfumes escondidos
debaixo das peles nuas.
A solidão,
essa companheira minha,
em ti, em ti...

quinta-feira, março 13, 2014

Quote #14

" Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
 E que nele posso navegar sem rumo,
 Não respondas
 Às urgentes perguntas
 Que te fiz.
 Deixa-me ser feliz
 Assim,
 Já tão longe de ti como de mim.
 Perde-se a vida a desejá-la tanto.
 Só soubemos sofrer, enquanto
 O nosso amor durou.
 Mas o tempo passou,
 Há calmaria…
 Não perturbes a paz que me foi dada.
 Ouvir de novo a tua voz seria
 Matar a sede com água salgada. "

 (Miguel Torga)

terça-feira, março 11, 2014

Até lá

Não basta amar e sermos amados. Isso, por si só, não chega. É preciso fazê-lo no tempo correcto, é preciso ter essa sorte, essa coincidência feliz que o acaso proporciona de forma criteriosa. Amei-te no momento incorrecto, mas amei-te de verdade. Amar incorrectamente no tempo não significa amar menos, mas antes não ter condições para continuar a amar dessa forma. Quando esta exigência temporal se impõe, não vale a pena insistir mais. Quando assim for - quando assim tiver que ser - há que ter a coragem para largar tudo. Quiçá esse amor se possa conservar dormentemente numa semente de lótus, para um dia, quem sabe, rebentar num tempo que seja o seu e nele possa florir com toda a merecida pujança. Quiçá nos possamos encontrar nesse futuro ou universo paralelo - Até lá! -  se assim tiver que ser...

domingo, março 09, 2014

Até já

- Então como é que correu?
- Olha correu bem...disse-lhe o que pensava e o que sentia; disse-lhe que vinha em paz e amor; disse-lhe ainda que era bom demais para ela e que ela tinha ainda muito que crescer e aprender, tal como eu cresci e aprendi com ela. Pediu-me desculpa, mas não ouvi bem dessa primeira vez. Pedi que repetisse, mas olhando-me nos olhos profundos de modo a ouvi-la melhor - Desculpa! - repetiu; tinha os olhos rosados e cristalinos, como quem tem vontade de chorar; o seu olhar estava pesado e o corpo com pressa de ir embora, nervoso. Fitava-me com dificuldade; tive pena dela. Perguntei-lhe se o problema estava em mim; respondeu-me com negação afirmante. Depois, se eu lhe era indiferente - Queres que te seja mesmo sincera? Sim, acho que sim! -  foi a sua resposta sincera quase na ponta da língua imediata, como se já tivesse treinado a reposta. No final, em jeito de amizade e compaixão, dei-lhe um abraço e disse-lhe para ser feliz...


quinta-feira, março 06, 2014

Quote #13

" Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr através desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim sempre. Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer. Porque a  minha força é imortal. "

(José Luís Peixoto)

terça-feira, março 04, 2014

Olarila

Ora aí está a verdade. Lá está ela marota, à coca, a espreitar pelo buraco da mentira e da omissão. Um olhito para cada racha coscuvilheira. Olhai como ela fita, com finta, para a realidade ofuscada e brincalhona. E tão atenta que ela está, a ver tudo passar e todos os palhaços que nela desfilam, todos contentes aqueles parvos iludidos, fazendo pouco de uma realidade aparente. Mas no meio destes parvos, há um que acorda e que por mero acaso sou eu. Acordei para a realidade nua e crua, sem capotes mentidos, nem truques de magia ou ilusões baratas. Apanhei-te verdade! E que bem nos damos nós. Não te julgo, não te martirizo mais, aceito-te com a dignidade que se deve aceitar qualquer verdade que, tal como tu, vivia oprimida e sem voz. A culpa não era tua, oh verdade, mas de quem te encobria. Anda cá, dá-me um abraço. Ui que bem que ele sabe. Quentinho e muito fofinho. Mas que rico abraço que me estás a dar, oh verdade!...

sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Ver-Te

Tu,
Sempre Tu,
Entretanto Tu,
Antes e depois Tu.
Tu? Claro que sim.

Já Tu,
Ultimamente Tu,
Lentamente Tu,
Indiscutivelmente Tu
Ainda Tu.

Até esta última estrofe,
És Tu,
Consegues ver-Te?



quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Entretanto

E é nesse breve entretanto entre o nada e a saudade que te procuro com a cegues do tacto mal treinado. Apalpo a tua forma nas coisas, tentando reconhecer os teus padrões curvilíneos nos objectos que desconheço. Por momentos, uma esperança encantada surge do meio da escuridão. Não a deixo escapar, agarro-a com força. Com ela faço um desenho de luz. Sigo os contornos sossegados da tua silhueta que ainda recordo com paixão. És, agora, e mais do que nunca, aquela ilusória constelação que ilumina a vontade e dá forma ao desconhecido. Porque pior do que desconhecer é não saber o que se desconhece. Assim, conhecendo o que não sei, acredito no que não vejo e confio em ti. Apalpo o futuro contigo, com o toque da incansável esperança que é, dizem, sempre a última a morrer...


terça-feira, fevereiro 25, 2014

Quote #12

" É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. "

(Miguel Esteves Cardoso)

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Esquecer

Como se esquece um amor?
Nunca se esquece um amor. 
Os amores não se esquecem, adormecem-se.
Os amores não se escondem guardam-se.
Os amores não se apagam, substituem-se por outros amores.
Por melhores amores, outros nem tanto,
Por amores diferentes, outros estranhos.
Por loucos, malditos, vagabundos, efémeros, eu sei lá...

E agora, como se substitui um amor? 
Como se troca de amor sem se morrer no entretanto do silêncio ousado?

Não se substitui um amor sem morrer.
É necessário fechar os olhos e chorar,
Sentir a falta e o vazio,
E o exagero do fim do mundo aparente,
A angústia que desperta o sono,
A saudade do que nunca aconteceu,
Das promessas agora rompidas,
Dos olhares desviados da felicidade deslavada de sabor.
Dos erros inconscientes, das palavras mal ditas, dos beijos mal dados,
Ui, de tanta coisa mais...

E depois deste resumo,
Que explode por entre rasgos de memórias
Que estilhaçam o coração com insistência,
É preciso cair e morrer,
Para finalmente ressuscitar,
Para um novo amor amar,
E voltar, assim, a viver!


terça-feira, fevereiro 04, 2014

Aguenta

Efectivamente, sim senhor, não o nego com a mesma veemência atroz com que desminto aos céus essas verdades escondidas, recalcadas, subjugadas aos factos, esses raivosos cães e danados que, devorando a realidade, a controlam com as trelas de aço presas nos dentes aguçados. Ui mas é mesmo assim, não há forma de escapar a essa perseguição, quatro patas são mais e melhores que dois pés descalços e sem hábito no solo grosseiro. A pele rasga, o sangue derrama, as vísceras respiram o ar poluído pela poeira e suor da debandada. Não só creio, observo igualmente a violência encarnada com que te estripam as ideias e as lavam em seguida. Dizem que estão sujas, dizem que é para teu bem. Macabro é esse limpar que te deixa oco e cego e faminto de conhecimento e de crítica. Aguenta, meu bem, a fricção da lavagem, grita, ruge até que o eco se sobreponha a ti e te amedronte. Chora, ri-te do insólito e do desconhecido. Brinca com ele, contigo, com todos. Faças o que fizeres, distrai-te, tudo irá passar, a seu tempo: tempo da evolução negativa, do passo atrás, do castramento das ideias e opiniões, da individualidade intelectual. Aguenta meu bem, aguenta, o pai está aqui...


sábado, fevereiro 01, 2014

Sentir

Não ouças quem te ignora,
Não olhes para quem não te procura,
Não toques em quem se afasta de ti,
Não aspires o perfume de quem não conhece o teu,
Não beijes quem não te deseja:

Não sintas quem não te sente.

Fala a quem te ouve,
Procura quem te olha,
Junta-te a quem te quer tocar,
Memoriza quem conhece o teu aroma,
Deseja quem te beija:

Sente quem te sente e quem a tua falta sente...





sexta-feira, janeiro 31, 2014

Voar

Contudo, te digo que te amo, afinal, para além dos céus e das montanhas, como um pássaro que ama o vazio do ar por onde voa sonhando, livre dos sistemas impostos, dos preconceitos e dos dogmas. É assim que te quero, incondicionalmente livre para me amares também, para podermos voar juntos, passear por entre esses céus e essas montanhas prometidas, sem olhar para trás, sem medos, mas também sem preocupação com o que há-de vir. Percebes agora porque te quero tanto? E percebes agora porque é que, ainda hoje, não te apartei do meu coração?

terça-feira, janeiro 21, 2014

Coragem

Por via das dúvidas, retoco-te os lábios com um suave beijo ao de leve que afugenta a cobardice de não te beijar por timidez. Toco-te na face para saber se és real. És deveras real, verdade absoluta; tautologia até. És veracidade que se repete em mim, axioma que se espelha e projecta pelos recantos fracamente lógicos da minha razão. Abraço-te o aroma do corpo abrasado pelo desejo rejeitado que evitas a todo o custo. E eu também, mereces que te confesse. Quero sentir-te. E agora, aqui perto de ti, encho-me de coragem, fixo-me no teu olhar profundo e segredo-te que gosto de ti. E gosto mesmo...

Quote #11

" Não me perguntes,
  porque nada sei 
  Da vida,
  Nem do amor,
  Nem de Deus,
  Nem da morte.
  Vivo,
  Amo,
  Acredito sem crer,
  E morro, antecipadamente
  Ressuscitando.
  O resto são palavras
  Que decorei
  De tanto as ouvir.
  E a palavra
  É o orgulho do silêncio envergonhado.
  Num tempo de ponteiros, agendado,
  Sem nada perguntar,
  Vê, sem tempo, o que vês
  Acontecer.
  E na minha mudez
  Aprende a adivinhar
  O que de mim não possas entender. "


 (Miguel Torga)

domingo, janeiro 12, 2014

sexta-feira, janeiro 10, 2014

Espero

Quero-te quando me quiseres. Espero por ti, cá fora, ao relento e despido do teu amor. Todavia, se voltares e me aconchegares de novo com o teu carinho, voltarei para ti, agradecer-te-ei por me aqueceres de novo...

domingo, janeiro 05, 2014

Quote #10

" Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! "

(Miguel Esteves Cardoso, 'Último Volume')

sexta-feira, janeiro 03, 2014

Quote #9

" Amei-te com as palavras
 com o verde ramo das palavras
 e a pomba assustada do coração.

 Amei-te com os olhos
 o espelho doido dos olhos
 e a sede inextinguível da boca.

 Amei-te com a pele
 as pernas e os pés
 e todos os gritos que trago
 por debaixo da roupa.

 Amei-te com as mãos
 As mesmas com que te digo adeus. "

 (Rosa Lobato de Faria)

Revisited #1

  Não te vi mais, mas sinto-te todos os dias no alto-relevo da tatuagem que esculpiste em mim. Não há dor nem cor. Há-te. Tu hás em mim em f...